Zelensky pede mais armas para evitar “banho de sangue sem fim”

Biden acusou a Rússia de “genocídio” e Macron pediu cautela na linguagem. Scholz também evitou a palavra, “irritado” por Kiev ter alegadamente rejeitado a visita do presidente alemão. Mariupol estará nas mãos dos russos, que rejeitaram trocar aliado de Putin por soldados.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apelou esta quarta-feira ao envio de mais armas para ajudar a combater contra as forças russas. Mariupol já terá caído nas mãos de Moscovo, que alega que mais de mil militares do batalhão que se preparava para a batalha final na cidade portuária se entregaram. “Sem mais armas, esta guerra vai tornar-se num banho de sangue sem fim, espalhando a miséria, o sofrimento e a destruição”, disse Zelensky. O presidente norte-americano, Joe Biden, falou pela primeira vez de um “genocídio”, mas os aliados europeus continuam mais contidos no seu discurso.

“Mariupol, Bucha, Kramatorsk – a lista via continuar. Ninguém vai parar a Rússia exceto a Ucrânia com armas pesadas”, disse o líder ucraniano num vídeo publicado nas redes sociais. Em Bucha, as autoridades já estão a exumar a vala comum encontrada junto à igreja de Santo André, onde estimam que possam encontrar 410 corpos. “A Ucrânia é uma cena de crime”, disse nesta cidade dos arredores de Kiev o principal procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan. O britânico reconheceu que há “razões para acreditar que crimes dentro da jurisdição do tribunal estão a ser cometidos”.

O TPI investiga, entre outros, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio e abriu uma investigação preliminar a 3 de março. Segundo a convenção de 1948, a palavra genocídio é usada para descrever “atos cometidos com a intenção de destruir, na totalidade ou em parte, um grupo nacional, ético, racial ou religioso”.

Esta quarta-feira, o presidente norte-americano acusou as forças russas de cometer “genocídio” na Ucrânia – uma palavra que, até agora, só tinha sido usada pelo próprio Zelensky. “Está a tornar-se cada vez mais claro que [o presidente russo Vladimir] Putin está só a tentar apagar a ideia de poder ser um ucraniano”, disse Biden, que anunciou uma nova ajuda militar de 800 milhões de dólares à Ucrânia. Os EUA não usam esta palavra muitas vezes – oficialmente o Departamento de Estado só a usou em sete ocasiões depois da II Guerra Mundial e do extermínio de seis milhões de judeus às mãos dos nazis.

O Kremlin considerou “inaceitável” as declarações de Biden. “Discordamos categoricamente e consideramos inaceitável qualquer tentativa de distorcer a situação desta forma, especialmente porque dificilmente é aceitável para o presidente dos EUA”, disse o porta-voz Dmitry Peskov.

O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, também considerou “correto” descrever os ataques da Rússia na Ucrânia como “genocídio”. Mas os aliados europeus são mais contidos. O presidente francês, Emmanuel Macron, alertou para a escalada verbal. “É uma loucura o que está a acontecer, é incrivelmente brutal”, disse à France 2, reiterando que foram cometidos “crimes de guerra” e que é preciso levar os responsáveis à justiça. “Mas ao mesmo tempo olho para os factos e quero tentar o máximo possível continuar a poder parar esta guerra e reconstruir a paz. Não tenho certeza de que as escaladas verbais sirvam essa causa”, referiu, lembrando que ucranianos e russos são “povos irmãos”.

Uma postura que desapontou Zelensky. “Estas coisas são muito dolorosas para nós, por isso farei o meu melhor para discutir este tema com ele”, disse o presidente numa conferência de imprensa com os presidentes da Polónia, Estónia, Letónia e Lituânia, que estiveram esta quarta-feira em Kiev.

Negativa a Steinmeier

O polaco Andrzej Duda, o estónio Alar Karis, o letão Egils Levits e o lituano Gitanas Nauseda visitaram esta quarta-feira a cidade de Borodyanka, “um lugar permeado de dor e sofrimento” nos arredores de Kiev, antes de reunir com Zelensky na capital. Mas o presidente da Alemanha, Frank Walter Steinmeier, que visitou a Polónia na terça-feira, disse que a sua presença na Ucrânia foi rejeitada. “Eu estava preparado para fazer isto, mas aparentemente, e devo tomar nota disto, isso não era desejado em Kiev”, contou.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que ficou “irritado” com a situação. E lembrou que Steinmeier, que foi chefe da diplomacia e admitiu recentemente “erros” na sua postura conciliadora em relação a Moscovo, condenou fortemente a agressão russa na Ucrânia. “Teria sido bom recebê-lo”, acrescentou à rádio pública RBB. Zelensky disse que nunca foi contactado sobre uma visita de Steinmeier, com um oficial a negar depois que o presidente a tenha rejeitado.

Mais cedo, a presidência ucraniana tinha contudo dito que não foi intenção de Zelensky ofender Berlim, alegando que esperavam o próprio Scholz em Kiev para discutir questões práticas, incluindo a entrega de armas – o cargo de presidente alemão é mais cerimonial. Mas o chanceler disse que não tem planos para visitar a cidade em breve, apesar de garantir que a Alemanha irá entregar mais armas à Ucrânia como estava previsto. Falou também em “crimes de guerra”, mas não em genocídio.

Mariupol caiu?

O Ministério da Defesa russo anunciou que mais de mil militares ucranianos se tinham entregado na cidade portuária de Mariupol, cercada há várias semanas. A televisão russa passou imagens de alguns dos 1026 soldados, entre eles 162 oficiais da 36.ª brigada de infantaria da Marinha. Segundo o comunicado, mais de uma centena de militares estavam feridos.

Kiev não confirmou esta informação. Contudo, na segunda-feira, a 36.ª brigada tinha dito que se estava a preparar para a batalha final por Mariupol, avisando que terminaria em morte ou captura, já que os militares tinham ficado sem munições Zelensky indicou no mesmo dia que “dezenas de milhares” de pessoas terão morrido na cidade, uma das mais atingidas pelos ataques russos.

Mariupol é crucial para garantir uma ligação terrestre entre a Crimeia (anexada pela Rússia em 2014) e as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Luhansk (cuja independência Moscovo reconheceu). O líder separatista de Luhansk garantiu que os rebeldes controlam entre 80% e 90% do território desta “República Popular”. Leonid Pasechnik admitiu que várias cidades, entre elas Severodonetsk e Kreminna, continuam sob o controlo de Kiev, mas é uma questão de tempo até todo o território ser “libertado”. Depois disso, as forças separatistas de Luhansk decidem se apoiam as tropas russas ou os “irmãos” de Donetsk.

Troca de presos rejeitada

A Rússia rejeitou esta quarta-feira a ideia de trocar prisioneiros ucranianos capturados durante a “operação militar especial” pelo empresário ucraniano Viktor Medvedchuk, um próximo de Putin que tinha fugido da prisão domiciliária no dia da invasão russa. O empresário, de 67 anos, estava detido desde maio de 2021 acusado de alta traição por divulgar segredos do Estado e foi recapturado na terça-feira.

“Em relação à troca proposta com tanto ardor e alegria por diferentes personalidades de Kiev, Medvedchuk não é um cidadão russo, é um político estrangeiro”, disse Peskov, dizendo ainda que Moscovo não sabe se ele quer que a Rússia participe na resolução da sua situação.

Por Redação do Sobral Pop News,com Jessé Júnior./Fonte: Diário de notícias. www.dn.pt

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