Veja a História de Lívia Sobralense que sonha ser jogadora, Família vai a busca do sonho dela !

 

Lívia é de Sobral, no interior do Ceará, e veio a Brasília em busca do sonho de ser jogadora profissional. A família vive apenas com a renda do pai, que trabalha em um caminhão de lixo

Conheça a história de Lívia, jogadora de futebol do Minas

Águas Lindas de Goiás, quatro horas da manhã. Rua deserta. Mas nos fundos de uma casa no bairro Jardim Pérola, o dia já está começando. A família da Lívia, atacante da equipe sub-18 do Minas, está toda de pé. Eles chegaram a Brasília no início do ano passado. Vieram de Sobral, cidade no interior do Ceará, motivados justamente pelo sonho da garota de 16 anos de se tornar jogadora de futebol.

— Meu sonho desde pequenininha. Eu falei para o meu pai: “Pai, eu quero ser jogadora de futebol. Na hora que eu entrar nesse jogo de profissional, vou dar o melhor para a minha família” — frisa Lívia.

— Eu estava desempregado e meu primo que mora em Brasília me ligou dizendo: “Vem para cá, que aqui é mais fácil. Tem escolinha de futebol, tem time feminino, traz essa menina para cá”. Ele já sabia que minha menina jogava, porque nós mandávamos vídeos. Aí pensei: “Vou mesmo, porque pelo menos eu arrumo um emprego e a Lívia vai ter mais oportunidades de jogar” — relembra Maurício Santos, pai da atacante.

O pai veio primeiro, porque as passagens de ônibus eram caras. Ele conseguiu emprego em um caminhão de coleta de lixo de Águas Lindas. Juntou dinheiro e trouxe o resto da família — a esposa, Lílian; as três filhas, Lídia, Lígia e Lívia; e o filho mais novo, Maurílio.

A família de Lívia vive apenas com a renda do pai, que trabalha em um caminhão de coleta de lixo — Foto: TV Globo/ReproduçãoA família de Lívia vive apenas com a renda do pai, que trabalha em um caminhão de coleta de lixo — Foto: TV Globo/Reprodução

A família de Lívia vive apenas com a renda do pai, que trabalha em um caminhão de coleta de lixo — Foto: TV Globo/Reprodução

Assim que chegou, Lívia começou a jogar em um time amador perto de casa, chamado Vitória. Lá, uma amiga a viu jogando e a convidou para uma seletiva no Minas.

— Eu fui em uma pelada do Vitória, aí a Ana, menina que joga lá, disse que queria me levar na seletiva do Minas, no Plano Piloto. Eu não tinha dinheiro para ir, mas a Ana disse que me levaria. Eu nem estava inscrita, mas as presidentes do time me deixaram jogar. Eu dei meu sangue para passar — conta a atacante.

Lívia não só foi aprovada para disputar o Campeonato Brasileiro sub-18 pelo Minas, como também ganhou bolsa esportiva em um colégio particular de Taguatinga. E é por isso que ela precisar levantar às quatro horas da manhã todos os dias. Ela caminha cerca de 20 minutos até o ponto de ônibus, e o trajeto até a escola dura uma hora e meia.

— Todo dia eu vou em pé dentro do ônibus, porque ele já vem lotado. Esse é o horário que todo mundo está na parada para ir trabalhar. Às vezes a porta não consegue fechar de tanta gente apertada lá dentro. Mas eu tenho que dar um jeito de entrar, porque se eu perco esse ônibus das cinco da manhã, eu chego tarde na escola — diz a garota.

Lívia precisa passar mais de uma hora em pé dentro do ônibus lotado para ir à escola — Foto: TV Globo/ReproduçãoLívia precisa passar mais de uma hora em pé dentro do ônibus lotado para ir à escola — Foto: TV Globo/Reprodução

Lívia precisa passar mais de uma hora em pé dentro do ônibus lotado para ir à escola — Foto: TV Globo/Reprodução

Depois da escola, são mais dois ônibus até o treino, no Setor de Clubes Norte. Ela treina todos os dias à tarde. E à noite, mais algumas horas de transporte para voltar para casa. No total, ela gasta cerca de vinte reais por dia com passagem. E isso faz com que ela precise tomar decisões muito difíceis.

— Ou me alimentar, ou ir para a escola. Porque o dinheiro que meu pai pega emprestado é para a minha passagem, mas no fim do mês não tem nada em casa. Aí, para não faltar nada em casa, tenho que faltar aula, para sobrar dinheiro para o alimento da minha família. Aí eu estava pensando em desistir, mas a Nayara e a Nayeri, presidentes do Minas, estão me apoiando e me ajudam com passagem quando podem.

Lílian Mesquita, mãe da Lívia, conta que, em duas ocasiões, recebeu ligação da escola dizendo que a filha havia desmaiado, porque não havia comido.

— Eu ficava doidinha. Só que o lanche é muito caro. Um dia uma professora chegou com umas compras para a Lívia e disse que tinham aberto uma conta para ela na lanchonete da escola — relata a mãe.

Inspiração

Uma das maiores motivações para Lívia foi a declaração da atacante Marta no fim da Copa do Mundo da França. A garota sentiu como se fosse um recado direto para ela.

— No dia que vi essa mensagem da Marta, eu quase chorei. Aquela frase me esforçou mais ainda para frente. Ela estava dando um conselho. Um conselho para eu continuar, né? Um conselho para eu continuar treinando no Minas e um dia chegar onde ela está. Se Deus quiser, um dia vou estar lá — ressalta Lívia.

Lívia treina todos os dias à tarde depois da escola — Foto: TV Globo/ReproduçãoLívia treina todos os dias à tarde depois da escola — Foto: TV Globo/Reprodução

Lívia treina todos os dias à tarde depois da escola — Foto: TV Globo/Reprodução

Cavani? Não, “Livani”!

Na cidade natal, o talento de Lívia para marcar gols lhe rendeu o apelido de “Livani”, em homenagem ao atacante uruguaio Cavani, do PSG.

— Meu tio criou o apelido de Livani e pegou. Ele também me chamava de “Livão” e eu ficava com raiva, mas quanto mais raiva ele me fazia sentir, mais eu jogava — diverte-se.

Tudo se recicla

A casa da família em Águas Lindas é toda decorada com objetos que foram jogados fora e eles reaproveitam. Como o pai de Lívia trabalha em um caminhão de coleta de lixo, ele encontra com frequência objetos que podem ser reciclados.

— O Maurício acha as coisas no lixão e eu guardo tudo! Tudo isso ele achou no lixão! Eu guardo tudo, ó! Minha coleção de copos, relógio, sanduicheira, porta-retratos, troféu, esses negócios de enfeite… — mostra a mãe.

A casa é toda decorada com objetos que Maurício, pai de Lívia, encontra no lixo e a família reaproveita — Foto: TV Globo/ReproduçãoA casa é toda decorada com objetos que Maurício, pai de Lívia, encontra no lixo e a família reaproveita — Foto: TV Globo/Reprodução

A casa é toda decorada com objetos que Maurício, pai de Lívia, encontra no lixo e a família reaproveita — Foto: TV Globo/Reprodução

— Aqui tudo é o que eu encontro lá no lixo. A Lílian gosta de usar como enfeite. Eu trago, ela limpa e bota para enfeitar. Os copos aqui, todas as coisas aqui eu trago. E não é só isso não! Trago roupa, trago calçados… A gente encontra muita coisa boa. Assim… Para a gente é boa. A gente aproveita, né? Nós aqui aproveitamos tudo — diz Maurício.

Campeonato Brasileiro Sub-18

Pela primeira vez na história a CBF está organizando um campeonato de base feminino. O Campeonato Brasileiro sub-18 começou em 9 de julho e está sendo disputado por 24 clubes. Na primeira fase, os times estão divididos em seis chaves. Os quatro do grupo se enfrentam em turno e returno. Os primeiros de cada chave e os dois melhores segundos colocados avançam de fase.

O Minas conquistou a vaga na competição por haver vencido a Série A2 do Campeonato Brasileiro adulto, no ano passado. O time da capital está no grupo D, com Fluminense, Palmeiras e Bahia. A equipe se despede do campeonato em terceiro lugar no grupo, atrás de Fluminense e Palmeiras, respectivamente. O Bahia é o lanterna.

Por Carina Ávila — Brasília, DF

FONTE: GLOBO ESPORTE

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