Pai e filho se emocionam em reencontro no CT do Ceará com escrivã que atirou para o alto

Há quase uma semana, Ceará e Fortaleza se enfrentaram pela Série A do Brasileirão, e deu Vovô. Apesar da bela festa nas arquibancadas, um fato manchou a imagem do jogo: um grupo de pessoas agrediu pai e filho, torcedores do Ceará, no caminho para a Arena Castelão. Ambos foram salvos graças a um ato de bravura de uma policial de folga que passava pelo local. Nesta quinta-feira (8), os três voltaram a se reencontrar. O palco? O CT de Porangabuçu.

O pai, Cleilton Coelho, tem costume de levar o filho, Rian da Silva, para assistir aos jogos do Ceará, time do coração dos dois. Naquele sábado, 3 de agosto, o dia ainda era mais especial: o garoto estava completando 15 anos. Ambos saíram de casa e seguiram de moto pela Avenida Silas Munguba rumo à Arena Castelão, palco do jogo contra o Fortaleza, quando foram surpreendidos por um grupo de pessoas, que começaram repetidas agressões.

– Foi um momento de aflição. Você apanhar, ver o seu filho apanhar, o pessoal tentando lhe roubar, roubar o seu filho. Não desejo isso para ninguém, é meio cruel. Você ver o seu filho gritando pelo o seu nome, você querer fazer alguma coisa sem poder. Aquela multidão de gente em cima do seu filho. É uma situação ruim, muito desagradável – diz o pai.

A situação só mudou após a chegada da escrivã da Polícia Civil do Ceará, Tárgilla Bié Britto. De folga no momento, a policial estava na casa do sogro, presenciou toda a ação e não pensou duas vezes antes de intervir pelo bem-estar tanto do garoto quanto do pai dele.

– Quando a gente entra na polícia, temos o juramento de servir e proteger. Entendi que minha missão naquele momento era essa. Passei a minha infância toda indo para jogos do Ceará com o meu pai de moto, já fui para milhares de Clássicos-Rei, é um momento de confraternização. Então eu pensei: ‘se eu não fizer nada, pode ser que a mãe dele receba uma notícia ruim’. – explica Tárgilla.

O drama aumentou devido à situação da policial. Grávida de cinco meses, ela admite que teve medo da quantidade de pessoas que agrediram o garoto, mas afirma que não pensou no próprio bem-estar e usou o “instinto de mãe” para proteger Rian e o pai.

– Eu sabia que ele era filho de alguém, e se fosse alguém da minha família, eu gostaria que tivesse alguém capacitado para agir. Na hora eu não pensei nem muito em mim, mas em livrar ele daquelas agressões. Porque eu sabia que se não fizesse nada até que a polícia viesse, poderia ser tarde demais – declara Tárgilla.

Os três voltaram a se reencontrar na tarde desta quinta-feira. Dessa vez, a palavra gratidão não saiu de cena em nenhum instante. Cleilton se refere a Tárgilla como “anjo que apareceu no momento e na hora exatas”. Às vésperas do Dia dos Pais, ele garante que já ganhou o presente: ter a vida do filho salva graças a atitude da policial.

Os três tiveram a chance de se reencontrar ao longo da semana, mas o mais especial ainda estava por vir. Pai, filho e policial estiveram no CT de Porangabuçu para acompanhar de perto o treino do Ceará. Além de fotos com os jogadores, eles puderam conhecer como funciona melhor a rotina do clube.

– Comemorar com o filho, com esse presente que a gente ganhou. Não vamos baixar a cabeça, jamais deixar de ir para o estádio por causa de torcedores e vândalos. A torcida do Ceará ajudou bastante a gente também. Vai ser um domingo (de dia dos pais) maravilhoso. Meu maior presente foi aquela moça ali aparecer e nos salvar – festeja Cleilton.

O elenco do Ceará acompanhou a visita dos três ao CT de Porangabuçu. O meia Ricardinho elogiou a atitude da policial, mas lamenta que ações como a de Tárgilla deveriam ser atos comuns no dia a dia.

– Ato heroico. Acompanhei ela nas redes sociais, nos jornais. A gente também se sente, gostaria de dar os parabéns a ela por esse ato de coragem. Por ela não ter pensado nela, mas sim em salvar uma vida como ela salvou. São atos assim que a gente esperava que fossem naturais da nossa sociedade encarar – destaca o jogador alvinegro.

Encontro com o ídolo

Diogo Silva e Rian da Silva — Foto: Kid Júnior/SVM

Diogo Silva e Rian da Silva — Foto: Kid Júnior/SVM

Com apenas 15 anos, Rian estava bastante encantado com a estrutura do Ceará. Tirou fotos com diversos jogadores, recebeu camisas oficiais do alvinegro e foi convidado, juntamente com o pai e com a policial para assistir ao jogo do Vovô contra a Chapecoense neste sábado (10).

– Não imaginava esse momento, mas sempre foi o meu sonho conhecer os jogadores do Ceará. Amo o Ceará e estou podendo realizar o meu sonho – enfatiza o garoto.

A surpresa maior, porém, ainda estava por vir. Rian foi surpreendido pela visita de Diogo Silva. O garoto de 15 anos atua como goleiro, e tem o arqueiro alvinegro como uma referência no futebol. Visivelmente emocionado, Rian abraçou o ídolo, que assim como Ricardinho, elogiou bastante a atitude da policial, afirmando que “o maior presente é ter a vida”.

Além da surpresa, Rian foi presenteado por Diogo Silva com as luvas usadas pelo goleiro no jogo contra o Fortaleza, que autografou o presente. Ao ver a cena, o pai, Cleilton, visivelmente emocionado, declarou:

– É o melhor presente de aniversário da vida do meu filho.

Apesar do acontecido, Cleilton e Rian declararam que não pretendem deixar de ir ao estádio assistir aos jogos do Ceará. Para o pai, o que houve não representa de verdade o que é um jogo de futebol, e que o amor ao time deve estar acima de tudo.

– Não vamos parar de ir. Não é por causa de um, dois baderneiros que a gente vai parar de fazer o que a gente gosta, jamais. A gente não vai abandonar o Ceará de jeito nenhum. ‘É por você que eu vivo, meu glorioso Vovô’ – finalizaram pai e filho.

Rian da Silva chora ao receber as luvas de Diogo Silva — Foto: Kid Júnior/SVM
(G1 Ceará)

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