Diferentes vozes em prol do respeito à diversidade sexual. Da Capital e do interior, milhares de pessoas saíram de casa e lotaram o calçadão e a Avenida Beira-Mar em defesa dos direitos das comunidades LGBTQIA+, na tarde de ontem. Do Eusébio, Itapipoca, Pindoretama, Quixadá, Quixeramobim e Região Metropolitana de Fortaleza, uma multidão exigiu direitos iguais a quem passava pela orla.
Para o presidente do Grupo de Resistência Asa Branca (Grab), Chico Pedrosa, responsável pelo evento, a Parada é uma contribuição para que grupos LGBTQIA+ tenham os mesmo direitos que os heterossexuais possuem. “Temos o objetivo de pautar os direitos das comunidades em Fortaleza e demais municípios cearenses para que não haja nenhuma restrição à vida dessas pessoas, na educação, no próprio direito à vida e também na saúde”.
Em 2019, a Parada chegou a 20ª edição. “Topo qualquer Parada! O medo não nos cabe” foi o tema escolhido para ser o grito das mais diversas vozes na Avenida Beira-Mar. Ao todo 10 organizações da sociedade civil, o Coletivo Mães pela Diversidade, Grupo Arte de Amar, Comissão da Diversidade Sexual e Gênero da OAB/CE, Polo Trans, CenaPop, DCE da Universidade Federal do Ceará (UFC), Outro Grupo de Teatro, Coletivo Flor no Asfalto, Fórum Cearense LGBT, Coletivo de Lésbicas da Marcha Mundial das Mulheres, Barraca da Amizade, Coletivo Gueto Queens, Livres LGBT, Fetamce eSindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) participaram da Parada.
O tema faz alusão a três importantes marcos históricos do movimento LGBTI+, sendo a celebração dos 50 anos da revolta de Stonewall, 30 anos de existência do Grab no Ceará e aos 20 anos das Paradas pela Diversidade Sexual do Ceará.
No início da Parada, membros do Grab leram o manifesto político em defesa dos direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexos e outras identidades. “Em nível local, lutamos há vários anos pela constituição do Tripé da Cidadania. No âmbito estadual, faltam constituir o Conselho de Direitos Humanos para LGBTI+, o Centro de Referência LGBTI+ e abrir o ambulatório de saúde para pessoas travestis e transexuais (mulheres e homens), todas essas ações precisam da iniciativa do Governo do Estado do Ceará. Estamos bem atrasados quanto a essas políticas se nos comparamos com outros estados do Nordeste e do País como um todo”, pontua um dos trechos do documento do Grupo.
Lutas
O desabrochar dos gêneros, por muitas vezes, é um desafio. Conflitos familiares ou mesmo o olhar diferente para o próprio corpo são questões e decisões que habitam a maioria dos jovens.
Silvia Quércia Cavalcante e Gláucia Cavalcante se uniram no primeiro casamento homoafetivo realizado em Fortaleza em 2011. Segundo elas, o batismo do casal aconteceu durante uma Parada da diversidade. Em mais uma edição, o casal renova os votos com muita alegria. “Há nove anos, fizemos o contrato homoafetivo em um casamento coletivo. Em 2014, quando foi sancionado a lei que liberava o casamento civil, também realizamos. Foram conquistas que, para os heterossexuais, sempre foram direitos desde o dia em que eles nascem”, explica a engenheira de sapatos.
Outro exemplo de luta é o da mulher trans Letícia Marques de 28 anos. Desde os 11 anos, a cabeleireira, participa da Parada da Diversidade de Fortaleza. “Eu comecei vindo escondida com meus colegas do bairro do Jangurussu. Gostei e fiquei vindo anos após anos”. De Arlerquina, personagem da franquia DC Comics, ela desfilou pela 20ª edição do evento. “É muito diferente ver o quanto mudou. Eu me escondia. Hoje, com 28 anos, as pessoas me param na rua para tirar fotos. Nosso objetivo aqui é mostrar que ser gay ou lésbica não é motivo de vergonha”, conclui.
O mesmo sentimento de luta é perceptível ao olhar de Sol Braga, 25, militante do movimento de gays e trans de Quixadá. Ela conta que casos de violência no interior ainda são visíveis muito pelo conflitos de gerações. “Já vivenciamos uma situação chata durante compras em um mercantil. O preconceito é visível em atos simples do dia a dia”.
Do Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza, com asas coloridas, Anderson Ferreira, 23, participou pela quarta vez da Parada na capital cearense neste ano. Ele conta que sente falta de um movimento organizado onde vive e pede atenção do poder público quanto à realização de mobilizações. “Queremos igualdade perante a todos. Esses momentos são de glória para o público LGBT+. Podemos conhecer gente nova que luta pela mesma causa”.
Maturidade
Evelize Regis de Freitas, 46, gestora ambiental, lidera a coordenação de 60 mães no coletivo “Mães pela Diversidade”. Ela conta que sempre soube que o filho era gay, mesmo antes de ter uma “conversa” – o que para muitos pais é um tabu. “Tenho muito orgulho de ser mãe dessa causa. Lutamos para eles serem o que quiserem ser. Queremos ajudar mães e pais nesse diálogo. É uma luta diária”.
Dediane Souza, Coordenadora executiva da Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual (CMPDLGBT), aponta que os próximos anos da Parada serão de luta para outros grupos sociais participarem, bem como outros tipos de financiamentos. “A parada se sustenta apenas com financiamento público. Precisamos atrais outros olhares. Politicamente, queremos agregar outros movimentos sociais”.
FONTE: DN