Por que falta gasolina nos postos da Venezuela, país exportador de petróleo

Falta gasolina nas bombas da Venezuela – justamente o país conhecido por ter, até ano passado, o litro da gasolina mais barato do mundo e por controlar a maior reserva comprovada de petróleo. De acordo com a agência americana Bloomberg, motoristas fazem filas em postos de alguns estados venezuelanos. Eles enchem os galões para estocar em casa, com medo de o combustível acabar de vez.

A escassez está relacionada à queda de braço entre o regime de Nicolás Maduro  e o líder opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente Inteirino da Venezuela por mais de 50 países.

Funcionários da petroleira estatal PDVSA participam de manifestação a favor do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em Caracas, na quinta-feira (31) — Foto: Reuters/Fausto Torrealba

Isso porque, de um lado, a gigante do petróleo venezuelano, a estatal PDVSA, apoia Maduro. Em contrapartida, o governo dos Estados Unidos foi o primeiro a reconhecer o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela.

Os EUA compram petróleo cru da Venezuela e revendem ao país a gasolina refinada, além de outras matérias-primas necessárias para o refino do combustível.

Como o impasse entre Maduro e Guaidó ganhou dimensão internacional, a crise afetou a já combalida distribuição de gasolina na Venezuela.

Veja abaixo como a crise política na Venezuela pode secar as bombas de gasolina do país:

  1. O petróleo que a Venezuela exporta é o petróleo cru. Para se tornar gasolina, a matéria-prima deve passar por processos de refino.
  2. Até janeiro, a PDVSA – estatal do setor petrolífero venezuelano – exportava petróleo cru para os Estados Unidos, principalmente. Depois, a Venezuela comprava a gasolina já refinada. Os EUA, inclusive, eram responsáveis por dois terços do combustível importado pelo país sul-americano.
  3. A Venezuela também importa nafta, outra matéria-prima necessária para o refino da gasolina.
  4. Pouco depois de os EUA reconhecerem Guaidó como presidente interino, o governo de Donald Trump bloqueou os ativos da PDVSA  sob jurisdição norte-americana. Todos os negócios envolvendo a estatal venezuelana nos EUA ficaram, portanto, congelados.
  5. A PDVSA continua a produzir petróleo cru. No entanto, o refino da matéria-prima em gasolina diminuiu consideravelmente. Assim, as bombas dos postos na Venezuela podem secar.
Funcionário de posto de gasolina conta dinheiro na Venezuela, dias antes da mudança da moeda no país — Foto: Marco Bello/Reuters

Além disso, a má gestão dos recursos durante o governo Maduro – além da queda do preço das commodities em 2014 – atingiu em cheio o país onde antes era mais barato comprar combustível do que água. Antes mesmo das sanções de Trump, houve relatos de escassez nos postos venezuelanos, como no Natal.

Maduro pede ajuda

Nicolás Maduro em evento em que anunciou chegada de ajuda humanitária da Rússia, nesta segunda-feira (18) em Caracas — Foto: Venezuelan Presidency / AFP

O regime Maduro, então, tem comprado combustíveis de importadores de outros países. Poucos, no entanto, veem vantagem no comércio com o governo venezuelano, informa a agência Reuters.

Com as sanções impostas pelos Estados Unidos, as importações à Venezuela saem principalmente da Rússia, da Espanha e da Índia. Os preços, no entanto, são astronômicos – sobretudo considerando o colapso financeiro vivido pela Venezuela.

Até então, a maioria dos produtos da área do petróleo importados pela Venezuela saíam dos Estados Unidos – principalmente da Citgo, uma subsidiária norte-americana da PDVSA.

Roraima sem gasolina

Governador Antônio Denarium (PSL) fala com a imprensa após sessão da Assembleia Legislativa de Roraima — Foto: Pedro Barbosa/G1 RR

A escassez pode afetar também o Brasil, especificamente na faixa de fronteira com a Venezuela. O governador de Roraima. Antônio Denarium (PSL), afirmou na quinta-feira (21) que cidades do estado podem ter problrma no abastecimento de gasolina depois que a fronteira do estado com a Venezuela foi fechada.

“Em Pacaraima nem há postos de combustível porque a gasolina na Venezuela é muito barata, o valor é irrisório. E, se por acaso for fechada a fronteira, tanto Pacaraima e Santa Helena também podem ter problemas de abastecimento”, declarou Denarium.

Além da falta de gasolina, o fechamento da fronteira com a Venezuela pode levar a problemas no abastecimento de outros produtos como fertilizantes e calcário. O fornecimento de energia, disse Denarium, também pode ser afetado.

Por G1

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