Falta gasolina nas bombas da Venezuela – justamente o país conhecido por ter, até ano passado, o litro da gasolina mais barato do mundo e por controlar a maior reserva comprovada de petróleo. De acordo com a agência americana Bloomberg, motoristas fazem filas em postos de alguns estados venezuelanos. Eles enchem os galões para estocar em casa, com medo de o combustível acabar de vez.
A escassez está relacionada à queda de braço entre o regime de Nicolás Maduro e o líder opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente Inteirino da Venezuela por mais de 50 países.
Isso porque, de um lado, a gigante do petróleo venezuelano, a estatal PDVSA, apoia Maduro. Em contrapartida, o governo dos Estados Unidos foi o primeiro a reconhecer o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela.
Os EUA compram petróleo cru da Venezuela e revendem ao país a gasolina refinada, além de outras matérias-primas necessárias para o refino do combustível.
Como o impasse entre Maduro e Guaidó ganhou dimensão internacional, a crise afetou a já combalida distribuição de gasolina na Venezuela.
Veja abaixo como a crise política na Venezuela pode secar as bombas de gasolina do país:
- O petróleo que a Venezuela exporta é o petróleo cru. Para se tornar gasolina, a matéria-prima deve passar por processos de refino.
- Até janeiro, a PDVSA – estatal do setor petrolífero venezuelano – exportava petróleo cru para os Estados Unidos, principalmente. Depois, a Venezuela comprava a gasolina já refinada. Os EUA, inclusive, eram responsáveis por dois terços do combustível importado pelo país sul-americano.
- A Venezuela também importa nafta, outra matéria-prima necessária para o refino da gasolina.
- Pouco depois de os EUA reconhecerem Guaidó como presidente interino, o governo de Donald Trump bloqueou os ativos da PDVSA sob jurisdição norte-americana. Todos os negócios envolvendo a estatal venezuelana nos EUA ficaram, portanto, congelados.
- A PDVSA continua a produzir petróleo cru. No entanto, o refino da matéria-prima em gasolina diminuiu consideravelmente. Assim, as bombas dos postos na Venezuela podem secar.
Além disso, a má gestão dos recursos durante o governo Maduro – além da queda do preço das commodities em 2014 – atingiu em cheio o país onde antes era mais barato comprar combustível do que água. Antes mesmo das sanções de Trump, houve relatos de escassez nos postos venezuelanos, como no Natal.
Maduro pede ajuda
O regime Maduro, então, tem comprado combustíveis de importadores de outros países. Poucos, no entanto, veem vantagem no comércio com o governo venezuelano, informa a agência Reuters.
Com as sanções impostas pelos Estados Unidos, as importações à Venezuela saem principalmente da Rússia, da Espanha e da Índia. Os preços, no entanto, são astronômicos – sobretudo considerando o colapso financeiro vivido pela Venezuela.
Até então, a maioria dos produtos da área do petróleo importados pela Venezuela saíam dos Estados Unidos – principalmente da Citgo, uma subsidiária norte-americana da PDVSA.
Roraima sem gasolina
A escassez pode afetar também o Brasil, especificamente na faixa de fronteira com a Venezuela. O governador de Roraima. Antônio Denarium (PSL), afirmou na quinta-feira (21) que cidades do estado podem ter problrma no abastecimento de gasolina depois que a fronteira do estado com a Venezuela foi fechada.
“Em Pacaraima nem há postos de combustível porque a gasolina na Venezuela é muito barata, o valor é irrisório. E, se por acaso for fechada a fronteira, tanto Pacaraima e Santa Helena também podem ter problemas de abastecimento”, declarou Denarium.
Além da falta de gasolina, o fechamento da fronteira com a Venezuela pode levar a problemas no abastecimento de outros produtos como fertilizantes e calcário. O fornecimento de energia, disse Denarium, também pode ser afetado.
Por G1