Pesca e poluição na orla de Fortaleza favorecem encalhes de botos-cinzas, espécie ameaçada de extinção

O boto-cinza é a espécie de mamífero marinho que encalha com maior frequência no Ceará — Foto: Aquasis/Divulgação

O boto-cinza é a espécie de mamífero marinho que encalha com maior frequência no Ceará — Foto: Aquasis/Divulgação

Na capital cearense, a espécie é comum na enseada da praia do Mucuripe. O médico-veterinário e coordenador do programa de mamíferos da Aquasis, Vitor Luz, garante que os encalhes de botos-cinzas possuem ligação com o comércio na região.

“Com relação a esta espécie, a principal causa é a captura acidental em redes de pesca, por causa da grande quantidade de barcos no local. Outras causas, como doença parasitária e morte perinatal por conta da poluição, ou traumatismos, por conta de colisão com embarcações, já foram registradas para grande parte das espécies, incluindo o boto.”

Apesar disso, Fortaleza não possui um centro para reabilitação de animais marinhos específico para o trato dos botos-cinzas.

A Aquasis especializa-se no cuidado com os peixes-bois, pelo fato de o Ceará ser líder de encalhes da espécie em relação aos demais estados brasileiros. Atualmente, 16 animais estão em processo de reabilitação na organização. Em 2019, 22 animais da ordem dos cetáceos (mamíferos marinhos) já foram resgatados, mas 21 deles sem vida. A única sobrevivente é uma peixe-boi de nome Flor. Ela se junta a outros 15 da mesma espécie em tratamento para, posteriormente, voltar ao habitat natural.

Golfinho da espécie cabeça-de-melão encontrado morto, em Camocim, em maio de 2018 — Foto: Aquasis/DivulgaçãoGolfinho da espécie cabeça-de-melão encontrado morto, em Camocim, em maio de 2018 — Foto: Aquasis/Divulgação

Golfinho da espécie cabeça-de-melão encontrado morto, em Camocim, em maio de 2018 — Foto: Aquasis/Divulgação

Mesmo tratando como prioridade, o foco da organização não se resume aos peixes-bois. O cuidado com outras espécies, porém, não é feito com a mesma periodicidade. Vitor Luz afirma que, no ato de encontrar algum animal de outra espécie encalhado, a reabilitação é feita no próprio local, sem levá-lo à organização, na maioria das vezes.

Após o tratamento, o animal é prontamente devolvido ao habitat natural. “Em geral, os cetáceos vivos são atendidos e tratados em áreas abrigadas próximas ao local do encalhe. As exceções são peixes-bois, filhotes de golfinhos ou cetáceos de pequeno porte que requeiram tratamento prolongado, que trazemos para o Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos da Aquasis”, afirma.

Tartarugas

Os encalhes acentuados não são realidade exclusiva dos mamíferos marinhos. O Instituto Verdeluz, por meio do Projeto de Estudos e Articulações sobre Tartarugas Marinhas (GTAR), registrou, nos últimos três anos, 107 tartarugas, de quatro espécies diferentes, encalhadas. Destas, apenas 17 foram recolhidas com vida e, após passar por primeiros socorros, devolvidas ao mar.

Em caso do encalhe de tartarugas, o GTAR trata com atitudes diferentes de acordo com cada caso. “Se o animal estiver vivo, é prestado o serviço de primeiros socorros antes da devolução ao habitat natural, o mar. Se estiver morto, é avaliado o estado de putrefação. Quando pouco, o corpo é levado às universidades para pesquisa; quando muito, o corpo é encaminhado para ser enterrado”, afirma Larissa.

O que diz a lei

A Instrução Normativa ICMBIO/Ibama revela que a implementação de ações que envolvam coleta, captura, abate, transporte, retorno à natureza, introdução, reintrodução e monitoramento da fauna silvestre depende de avaliação do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (Sisbio). O Verdeluz renova esta licença anualmente, garante Larissa Fortes.

O poder público, porém, segundo o instituto, não facilita o trabalho de resgate das tartarugas marinhas por parte do GTAR. No domingo (14), a organização usou as redes sociais para fazer uma reclamação contra a Prefeitura de Fortaleza, alegando que uma tartaruga morta, em grau avançado de putrefação, foi retirada da Praia do Futuro, na capital, pelo poder público sem destinação divulgada.

Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) afirmou que a pasta não possui a competência necessária para tratar de assuntos envolvendo fauna silvestre.

A Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace) também foi consultada, mas assegurou que a pauta não se refere à competência da pasta, confirmando, por meio de assessoria, que trata da prevenção de crimes ambientais, mas que, uma vez que eles já tenham ocorrido, não é demanda da Semace retirar o animal morto do local, por exemplo.

Por: G1-CE

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