Organizadores de ao menos 50 blocos dizem que vão desfilar no feriado de Tiradentes mesmo sem aval da Prefeitura de SP

Gestão municipal afirma não ter tempo hábil para viabilizar a festa de rua em abril.

Organizadores de ao menos 50 blocos de São Paulo afirmam que farão desfile nas ruas da cidade durante o feriado de Tiradentes. Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), no entanto, não há tempo hábil para organizar o evento ainda em abril.

O carnaval de rua foi cancelado na capital paulista no início de janeiro, no contexto do avanço da variante ômicron do coronavírus. Os desfiles das escolas de samba, no entanto, foram mantidos e adiados para os dias 16, 21, 22, 23 e 29 de abril no sambódromo do Anhembi.

Desde sexta-feira (8), a Prefeitura de São Paulo tem enfrentado um impasse com os organizadores de blocos de rua, que em carta pública anunciaram a intenção de também realizar os cortejos no feriado prolongado de Tiradentes, entre 21 e 24 de abril.

Mesmo sem o apoio da gestão municipal, pelo menos 50 blocos pequenos anunciaram que farão desfiles menores, sem estrutura de trio elétrico, apenas com instrumentos. Já os organizadores dos megablocos, que arrastam multidões, esperam que a prefeitura defina outra data.

“Eu não vou impedir ninguém de ir pra rua. Sou o defensor da expressão cultural, da democracia. Eu vou continuar fazendo um apelo: tenham responsabilidade. A gente não pode colocar as pessoas em risco, e eu não tenho tempo pra organizar uma infraestrutura do tamanho que é necessário”, disse Nunes nesta segunda.

Bloco Charanga do França, em desfile em 2020. — Foto: BRUNO ROCHA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

O prefeito descartou a realização do carnaval de rua no feriado de Corpus Christi, em junho, conforme havia sido informado à GloboNews pela secretária municipal de Cultura, Aline Torres.

Segundo ele, a gestão municipal trabalha com várias possíveis datas para o evento, mas diz que o ideal para a cidade seria a realização dos cortejos dos blocos de rua no mês de setembro.

“Se for setembro, está fechado! Eu vou ter tempo de soltar o edital, pode ser junho… [mas] não no Corpus Christi. Nós não vamos misturar o carnaval de rua com o Corpus Christi. A gente precisa respeitar e também essa necessidade de infraestrutura que a prefeitura precisa ter com o feriado de Corpus Christi na cidade. O ideal é que a gente faça esse evento junto com algum outro feriado que não gere essa movimentação na cidade”, declarou.

Quatro secretários municipais fizeram uma reunião no Centro Cultural SP na última sexta-feira (8) com as seis entidades que representam 85% dos blocos oficiais da cidade. Eles informaram ao grupo a falta de disponibilidade da gestão municipal em organizar o evento em tempo curto, e ouviram críticas dos organizadores dos desfiles sobre a falta de diálogo da gestão.

Em nesta segunda (11), Nunes reafirmou que o carnaval de rua só poderá ser feito quando for possível garantir segurança aos foliões.

“O momento certo é o momento onde as pessoas possam ter segurança de ir para rua, não vai ser abril, maio, junho, julho ou qualquer mês. A definição da Prefeitura de São Paulo sobre o momento correto é o momento em que se possa gerar segurança”, afirmou o prefeito.

“A Polícia Militar nos diz que agora para abril eles não têm condição de fazer a remoção ou melhor, a transferência das centenas e milhares de policiais do interior, como sempre ocorre aqui nos grandes eventos, porque eles precisam de mais de 30 dias para organizar isso. Nós não conseguimos lançar o editar para poder ter patrocínio, para poder colocar as grades, tendas para médicos, ambulâncias, como sempre a gente fez”, completou.

Histórico do impasse

O argumento vem sendo sustentado desde a semana passada, quando a prefeitura tentou transferir a responsabilidade da segurança dos desfiles para os organizadores.

Nunes chegou a dizer que o carnaval de rua poderia ocorrer durante o feriado de Tiradentes, desde que os blocos tivessem condições de bancar a infraestrutura e segurança do evento.

A reunião entre os representantes dos blocos e a prefeitura terminou sem acordos na sexta (8) e com protestos contra a atual administração municipal.

No sábado (9), em entrevista à GloboNews, Aline Torres, secretária municipal da Cultura, disse que uma das propostas que deverá ser debatida é a de realizar a festa no feriado de Corpus Christi, em junho.

Blocos querem em abril

Ao ser questionado sobre a possibilidade de carnaval em junho, Zé Cury, presidente do Fórum de Blocos de Rua, afirmou que considera a data ruim porque seria no mesmo período da festa junina, em que vários blocos da cidade já participam de eventos.

“Todo mundo hoje que faz cultura, em junho faz festa junina. Inclusive os blocos, seja em festas fechadas ou na rua mesmo, com barraquinhas, girando a economia local. Não acredito que seja uma data que os blocos vão aderir”, afirmou.

Segundo ele, o ideal seria fazer o carnaval fora de época no segundo semestre. Pedro Anacleto, do coletivo Ocupa, concorda com o argumento.

“A gente acha que junho está muito próximo para todos os blocos se organizarem. A data que estamos sugerindo é mais para o fim do ano, agosto, setembro ou outubro, mesmo que seja próximo da eleição”, disse.

Feriado Tiradentes

Na semana passada, seis entidades que representam a maioria dos blocos paulistanos divulgaram uma carta pública demonstrando o interesse de sair às ruas. Partes dos blocos quer desfilar no feriado de Tiradentes, entre os dias 21 e 24 de abril, quando ocorrem os desfiles das escolas de samba no Anhembi.

Na carta, o grupo afirma que “não há motivos” para que a gestão municipal proíba os cortejos, já que os eventos esportivos, os festivais de música e o carnaval de Sambódromo foram liberados após a queda nas mortes e internações por Covid-19.

O último boletim da Friocruz mostra que os casos de Covid chegaram ao menor valor percentual da pandemia no país.

Fomento

Em janeiro, quando o carnaval de rua foi cancelado, a secretária da Cultura, Aline Torres, prometeu criar um programa de fomento aos blocos.

A ideia do programa é ajudar blocos que precisam de recursos para se manter, após quase dois anos sem as verbas, que eram arrecadadas com apresentações no carnaval e patrocínios que foram cortados ao longo da pandemia.

O programa só saiu do papel neste início de abril, segundo a secretária, porque os blocos precisaram se adequar à burocracia municipal.

A pasta vai contratar ao menos 300 pequenos cortejos de rua para fazer apresentações artísticas na programação dos equipamentos municipais, como centros e casas de cultura e bibliotecas, por exemplo. Eles receberão até R$ 5.700.

“Vamos contratar blocos periféricos que, sem esse fomento, não conseguiriam desfilar. Depois, nossa ideia é aumentar esse número”, explicou Torres.

Por Redação do Sobral PopNews, com Jessé Júnior./ Fonte: Por g1 SP e TV Globo — São Paulo

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