Muita gente desencorajou, mas eu não desisti’, desabafa mulher que adotou criança nascida de mãe soropositiva em Fortaleza

João Rafael, de dois anos e dois meses de idade, começou a lutar por sua vida logo nos primeiros meses: nascido de uma mãe com diagnóstico positivo para o vírus da AIDS, foi abandonado por ela logo na maternidade. Hoje, ele encontrou um lar e uma nova mãe em Emanuele Coelho, 40 anos. A fonoaudióloga conheceu ele aos dois meses de idade, quando funcionários do abrigo em que a criança se encontrava à época o levaram para uma consulta. Foi amor incondicional à primeira vista.

“Coloquei ele no colo e ele parou de chorar na hora. Foi quando perguntei sobre a mãe dele e me disseram que ele foi abandonado. Nesse momento Deus colocou no meu coração a missão de amar e dar o meu melhor para essa criança”, desabafa.

De 2017 para cá, ela travou uma batalha para trazer Rafael para casa. Realizando atendimentos semanais ao abrigo onde o menino vivia, ela apadrinhou o pequeno e passou a dar a ele mais atenção.

O relato foi compartilhado durante solenidade de entrega de termos de adoção para a confecção de novos registros de nascimento de filhos adotivos. O evento ocorreu no no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza, na manhã de sexta-feira (10) e beneficiou 26 famílias. Neste domingo (12), Dia das Mães, estas famílias vão comemorar, pela primeira vez, a data em um novo ciclo de suas vidas.

Emanuele conta que, nos oito primeiros meses de vida, Rafael esteve internado oito vezes. Eram quadros de complicações respiratórias e até suspeitas de paralisia cerebral e hidrocefalia.

“A gente tinha medo também de ele carregar o vírus HIV, como a mãe biológica dele. A saúde era muito frágil. Em uma das internações o médico mandou eu ir ao abrigo buscar a certidão de nascimento dele porque iria precisar para atestar o óbito, porque ele não passaria daquela noite”, relata emocionada.

Mas Rafael persistiu e resistiu. “Eu disse pro médico: ‘doutor, ele vai sair daqui bem e eu vou ser a mãe dele’”, relembra Emanuele.

Desafios

Já acompanhando a situação de João Rafael por meses e nutrindo ainda mais sentimentos, um novo passo à adoção foi dado em dezembro de 2017, ao iniciar o processo de destituição do poder familiar, que é quando os parentes biológicos perdem a guarda oficial da criança, atribuição essencial para os trâmites de adoção. Em seguida, a fonoaudióloga deu entrada no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

E foi neste momento que ela descobriu que no CNA não havia nenhum perfil de família interessado em uma criança como Rafael, com quadros severos de saúde. “Ninguém queria meu filho e eu queria tanto. É por isso que é importante esse momento da minha fala. A gente procura um filho perfeito, ideal, sem defeitos, mas não lembramos que dentro dos abrigos existem crianças com diversas doenças e que precisam de amor”, contou Emanuele.

Entre papeladas e burocracias, a luta continuava. Solteira e com uma rotina intensa de trabalho, Emanuele, que não tinha planos de ter filhos, se viu unindo todas as suas forças para realizar o novo sonho e dar conforto a Rafael. O caminho não foi fácil.

“Muita gente me desencorajou, mas eu não desisti. Um médico olhou pra mim uma vez e disse: ‘não faça isso, você é solteira, independente e tem toda uma vida pela frente. Vai pegar uma criança com todo esse comprometimento de saúde?’. Eu disse pra ele e pra todo mundo que queria meu filho, independente de tudo”, afirma.

Guarda

A guarda provisória só veio em julho de 2018, mais precisamente no dia 13, coincidentemente o dia em que Emanuele sonhou que levava Rafael para casa. “Foi como se eu tivesse parido ele ali naquela hora. Eu não sabia o que fazer de tanta emoção. No mesmo dia eu fui pegar ele no abrigo”, conta.

O passo final foi dado somente neste ano, no último dia 1º de março, quando Emanuele recebeu a guarda definitiva de Rafael após ganhar o termo de adoção para fazer a nova Certidão de Nascimento do pequeno. E o ano de 2019 vem sendo de alegrias para a família. Mais cedo, em fevereiro, exames comprovaram que Rafael não é portador do vírus HIV e que também não tinha paralisia cerebral.

“Antes dele chegar na minha vida eu era uma mãe solteira de um filho adotado e quando ele chegou eu passei a ser a mãe escolhida de um filho muito amado. Ele fez o caminho inverso. Veio de fora para dentro de mim. Ele ressignificou todos os dias e todos os momentos da minha vida. Eu sou a pessoa mais feliz do mundo”, afirma

Por: G1-CE

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