Jovens do interior do Ceará buscam cursos de idiomas por mais chances no mercado de trabalho

Centro Cearense de Idiomas (CCI) de Iguatu, interior do Ceará, conta com 307 alunos matriculados — Foto: Divulgação

A oferta de cursos gratuitos de inglês e espanhol em municípios do interior do Ceará eleva nos jovens a expectativa de tornar mais acessível o que historicamente esteve segregado a algumas camadas sociais. Estudantes secundaristas podem participar de formações em língua estrangeira nos Centros Cearenses de Idiomas (CCIs), política do Governo do Estado iniciada em 2018 e hoje presente nas cidades de Crateús, Itapipoca, Iguatu e Juazeiro do Norte. Isto, na opinião dos jovens, potencializará as chances de obter uma vaga no mercado de trabalho, no futuro.

José Roberto, de 17 anos, estudante do 2º ano do ensino médio, se desloca pelo menos duas vezes por semana da zona rural para cursar inglês em Iguatu, interior do Estado. “A equipe foi na minha escola e anunciou o curso. Eu tive interesse porque é bom para fazer o vestibular”, lembra o estudante, ao mesmo tempo em que projeta o próprio futuro. “Quero ir pra área de Tecnologia e um novo idioma é bom porque a maior parte [do conteúdo do curso superior] vem de fora do Brasil”.

Em Juazeiro do Norte, Thalia Nunes, de 18 anos, vivencia expectativas semelhantes. Ela espera ingressar no mercado de trabalho logo após finalizado o curso de inglês. “Eu quero ser professora e depois que eu comecei o curso já surgiram oportunidades de trabalho. Quem tem um segundo idioma sai na frente e eu acho importante que todo mundo possa fazer o curso”, ressalta a jovem. Ela também está matriculada no 2º ano do ensino médio.

Vagas Ociosas

Apesar das afirmações, o número de vagas ociosas nas unidades ainda é grande. A CCI de Iguatu conta com um total de 307 alunos matriculados. Os Centros, localizados ainda em Crateús e Itapipoca, foram projetados para atender até 1.05 alunos, cada unidade. Em Juazeiro do Norte, o número sobe para 1.750.

Segundo a secretária da unidade de Iguatu, Sirlânia Ferreira, os sintomas para o número baixo de matriculados envolvem múltiplos fatores: “Iguatu tem muitas escolas de tempo integral e isso faz com que a demanda seja maior no curso [do turno] da noite. Nós não temos como atender todos”, explica.

Para aumentar o total de vagas preenchidas, a Secretaria de Educação (Seduc) do Ceará está estendendo o serviço a outros municípios. A Secretaria justifica, ainda, que “cada CCI apresenta uma capacidade máxima para o acolhimento dos alunos, conforme sua estrutura. No entanto, a ocupação e o atendimento são planejados de forma a atender à organização modular semestral permitindo o ingresso de novos alunos”.

Itapipoca e Crateús

Segundo a diretora do CCI de Itapipoca, Analice Albuquerque, 721 estudantes estão matriculados em algum dos dois cursos: inglês ou espanhol. Ela pontua que o ensino promove o “fortalecimento do currículo do ensino médio e a maior inserção no mercado de trabalho”. Os interessados em cursar a segunda língua devem ir ao CCI portando a matrícula escolar e, caso sejam menores de idade, estar acompanhados dos pais.

Em Crateús, o total de vagas preenchidas também é baixo: são 460 jovens atendidos na unidade. As vagas ficam disponíveis para estudantes de escolas públicas a partir do 1º ano do ensino médio. A diretora da unidade de Crateús, Naedja Pinheiro, destaca os benefícios do curso pela “ampliação do repertório cultural e linguístico dos jovens, em especial, aqueles que residem no interior do Estado”.

Evasão

O CCI de Juazeiro do Norte, no Cariri, conta com o maior número de estudantes dos Centros no interior do Estado. Um total de 1.300 alunos fazem parte do corpo discente. O coordenador pedagógico Marcos Aurélio justifica a ociosidade das vagas pela evasão presente nesse período do ano. “Nós temos alunos do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio. Os que vão fazer o Enem geralmente acabam abandonando o curso perto do Exame”.

O coordenador também pondera que “outros alunos desistem porque precisam trabalhar ou têm dificuldade com as passagens”.

A diretora da unidade, Rosa Maria Machado, destaca a importância do curso para o desenvolvimento futuro da economia local. “Juazeiro do Norte é uma cidade desenvolvida e isso favorece bastante a entrada no mercado de trabalho, principalmente no turismo, que é muito forte”, explica. Além disso, a gestora aponta a importância da “inclusão social por meio da oportunidade para quem nunca teve acesso”.

Mercado de Trabalho

O especialista em mercado de trabalho Antenor Tenório vê como positiva a política dos CCIs. “Há uma deficiência grande, já que nem todo mundo tem condições de pagar o curso”.

Além de proporcionar novas experiências, o segundo idioma tem impacto positivo no aspecto salarial, conforme Tenório. “Em termos de salário médio acrescenta, em média, 30%”, explica o especialista.

Centros de Idiomas

Segundo a Seduc, os CCIs foram implementados, a partir de 2018, com a oferta de cursos de inglês e espanhol em investimento que ultrapassa R$ 5 milhões. A previsão é que mais três unidades, em Quixadá, Camocim e Aracati, sejam inauguradas em 2020.

“As aulas seguem módulos de estudo, com certificados de conclusão para cada módulo e o conjunto final. Com duração de três anos distribuídos em seis semestres de aulas”, informou o órgão, em nota.

Por J Oliveira do Sobral Pop News com informações do G1/CE