Índice de fumantes adultos na Capital é o menor dos últimos 10 anos

Apesar de não se conhecerem, Francisco Modesto Sobrinho e Anna Paola Rocha dividem o pesado fardo de serem ex-fumantes. Ambos começaram experimentaram o cigarro aos 13 anos e só foram parar mais de 40 anos depois, forçados diante da realidade de uma saúde fragilizada por cada trago que deram durante esse período de suas vidas. Hoje, com 65 e 55 anos, respectivamente, celebram as vitórias conseguidas graças ao Programa de Controle de Tabagismo do Hospital de Messejana (HM). Ambos fazem parte de uma estatística que diminuiu o índice de fumantes adultos em Fortaleza.

De acordo com a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2017, a parcela de pessoas que fumam na Capital é de 5,6% da população. Este indicativo é o menor dos últimos 10 anos, mas ainda é fator de preocupação para o Poder Público e especialistas. No Hospital de Messejana, 3 mil pessoas já foram contempladas desde o início do programa, há 18 anos. Só nos últimos dois anos, 442 resolveram parar de fumar e deram entrada no HM. Anna Paola é uma delas.

Ela recebeu seu certificado de um ano sem fumar na última segunda-feira (27), durante evento realizado na unidade hospitalar para alertar sobre os prejuízos do fumo para a saúde. “Minha companheira teve um infarto. Ela também fumava muito e, como eu já estava querendo parar há um tempo, tive essa iniciativa. Já estava sentindo fisicamente os efeitos do cigarro. Não conseguia andar por muito tempo e perdia a respiração muito fácil. Eu já tinha passado do prazo de validade para deixar de fumar”, relata a empresária.

Depois de cinco meses no Programa de Controle de Tabagismo, ela já se sente uma nova pessoa e pensa menos vezes no cigarro. “No começo é bem difícil, não vou mentir. Mas, ao longo do tempo, você vai se distraindo e pensando menos. Hoje, me sinto mais integrada na sociedade. Antes eu não passava muito tempo em um ambiente fechado, sempre tinha de sair para fumar e voltava com o cheiro forte”, desabafa Anna Paola.

Rotina

Todas as terças-feiras, por cerca de 30 minutos, os pacientes se reúnem no HM sob a supervisão de Penha Uchôa, pneumologista e coordenadora do Programa. Segundo ela, “quando o paciente chega ao hospital, ele passa por uma triagem médica e é submetido a testes do nível de tabagismo. Depois de avaliado por psicólogos e assistentes sociais, ele é encaminhado para o grupo de reuniões”, pontua a especialista.

Aliado à terapia em grupo, também são realizados acompanhamento psicológico e exames de espirometria – modalidade que avalia a função pulmonar, essencial para o diagnóstico de enfermidades atribuídas ao tabagismo, como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), uma doença considerada “silenciosa”.

Mesmo após cinco anos sem fumar, Francisco Modesto foi diagnosticado com DPOC e precisou mudar mais ainda sua rotina de cuidados.

“Eu parei de fumar há 10 anos com a ajuda do programa e já estava me sentindo melhor, mas depois de cinco anos, comecei a sentir muito cansaço, tosse e dor nas costas. Voltei ao médico e descobri que tinha contraído DPOC. A doença tá dentro de mim e eu vou morrer com ela. Mas eu faço exames e inalo medicamentos para ter mais qualidade de vida. Minha tendência é ir melhorando”.

O aposentado relata ainda que experimentou uma mudança em todos os âmbitos da vida depois que tirou o cigarro do seu cotidiano.

No Brasil, há muitos casos como os de Francisco e Anna Paola, mas nem todos conquistaram a sua liberdade do vício. De acordo com um estudo realizado pela Fundação Para um Mundo Livre de Fumo, divulgado no ano passado, 72% dos fumantes brasileiros que tentaram parar de fumar não conseguiram.

Tratamento

Para além do físico, o emocional também conta e precisa ter uma atenção maior para quem quer parar de fumar. Em Fortaleza, quem deseja se livrar do vício em nicotina tem algumas opções de suporte. Além do HM , o Centro de Saúde Meireles também dispõe de turmas de Controle de Tabagismo. Postos de saúde também podem atender fumantes que demandem atendimento médico.

Conforme o médico Mauro Gomes, diretor da Comissão de Infecções Respiratórias da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, um dos principais entraves para a cessação do tabagismo é o fator psicológico.

“Os hábitos que os fumantes adquirem podem ser relacionados à chamada dependência psicológica. Esta dependência pode ser comparada com a provocada pela heroína”, pondera o pneumologista Mauro Gomes.

Como Anna Paola e Francisco Modesto, a força de vontade deve ser imperativa. Segundo Gomes, disciplina, motivação e superação da abstinência são fatores que melhoram a qualidade de vida.

DN

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