Eleição no Peru: Castillo passa Keiko e começa a abrir vantagem; 92% das urnas já foram apuradas

Candidato de esquerda radical ultrapassou a conservadora de direita, que é filha de Alberto Fujimori, por poucos milhares de votos. Contagem rápida feita por instituto de pesquisa indica empate técnico.

Pedro Castillo passou a candidata Keiko Fujimori na apuração da eleição presidencial no Peru na tarde desta segunda-feira (7) e agora começa a abrir uma pequena vantagem, de cerca de 39 mil votos atualmente.

Com 92,9% das urnas apuradas, Castillo tem 50,116% dos votos válidos contra 49,884% de Keiko, segundo o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE, na sigla em espanhol).

A diferença atual é de apenas 0,232 ponto percentual, ou 39.164 votos. São 8.436.061 para o candidato de esquerda e 8.386.897 para a candidata conservadora (veja mais abaixo um perfil dos candidatos).

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Pesquisa de boca de urna divulgada no domingo (6) havia indicado vitória apertada da filha do ex-presidente Alberto Fujimori, com 50,3% dos votos válidos (contra 49,7% do professor sindicalista).

Depois, o mesmo instituto de pesquisa passou a projetar Castillo à frente, com 50,2% (contra 49,8% de Keiko), após uma contagem rápida dos votos. Mas apontou empate técnico entre os candidatos.

Keiko foi mais votada na capital Lima e nas grandes cidades, chegando a ficar vários pontos percentuais à frente de Castillo no início da apuração, mas começou a perder terreno quando os votos do interior passaram a ser contabilizados.

Com 90% das urnas apuradas, ainda não é possível saber quem será presidente do Peru

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Eleição apertada

Castillo, de 51 anos, havia pedido calma após os primeiros resultados parciais, ainda no domingo, advertindo que “ainda falta contar os nossos votos, da zona rural”. Keiko, de 46 anos, afirmou que a boca de urna deveria ser considerada com “prudência” porque a margem de diferença era pequena.

Na eleição de 2016, a filha de Fujimori perdeu para o banqueiro Pedro Paulo Kuczynski por 50,12% a 49,88%, uma diferença de 0,24 ponto percentual, mas não reconheceu o resultado.

Desta vez, ambos os candidatos prometeram respeitar o resultado da eleição presidencial mais disputada da história do Peru, um país devastado pela pandemia e por uma grave crise política (veja mais abaixo).

“A partir de agora, posso dizer que, seja qual for o resultado, respeitarei a vontade popular, como deve ser”, prometeu a candidata de direita, que tenta pela terceira vez se tornar a primeira presidente mulher do Peru.

“Vamos ser respeitosos assim que houver um resultado oficial”, afirmou o candidato de esquerda após votar com um paletó marrom e chapéu branco típico dos camponeses de Cajamarca.

País em crise

Com projetos antagônicos, o professor de escola rural e a filha de Fujimori chegaram ao segundo turno praticamente empatados nas pesquisas, após uma campanha marcada por incertezas e exacerbação de temores, o que elevou a cotação do dólar na sexta-feira (4) a um recorde de 3,9 soles.

Quem vencer tomará posse em 28 de julho, dia em que o Peru comemora o bicentenário de sua independência.

Keiko pode ser eleita a primeira presidente peruana, meta para a qual trabalha há 15 anos, desde que assumiu a missão de reconstruir praticamente das cinzas o movimento político de direita fundado por seu pai em 1990.

Já Castillo concentra o apoio nas áreas rurais do “Peru profundo”, mas caiu nas pesquisas de opinião com o temor de peruanos que o país se transforme “em uma nova Venezuela”, devido a posições extremas do candidato (veja mais abaixo).

O país, que chegou a ter três presidentes em uma semana em novembro de 2020, atravessa grave crise política.

O atual presidente é Francisco Rafael Sagasti, que assumiu interinamente após Martín Vizcarra sofrer um impeachment e seu sucessor, Manuel Merino, renunciar após cinco dias. Sagasti pediu a seus compatriotas “que respeitem escrupulosamente a vontade expressa nas urnas”.

O presidente interino do Peru, Francisco Sagasti, em entrevista à agência de notícias Reuters em Lima no dia 19 de novembro de 2020 — Foto: Sebastian Castaneda/Reuters

O presidente interino do Peru, Francisco Sagasti, em entrevista à agência de notícias Reuters em Lima no dia 19 de novembro de 2020 — Foto: Sebastian Castaneda/Reuters

Em 31 de maio, o governo peruano revisou os números da pandemia e anunciou que mais de 180 mil pessoas haviam morrido de Covid-19 no país, mais do que o dobro dos números oficiais.

Com a mudança, o Peru se tornou o país com o maior número de mortes por Covid-19 do mundo em relação à população.

São 5,6 mil óbitos a cada 1 milhão de habitantes, quase o dobro do segundo colocado (a Hungria, que tem 3 mil). O Brasil é o 10º pior, com 2,2 mil mortes por milhão, segundo dados do “Our World in Data”.

VÍDEO: Peru revisa números da Covid-19 e se torna país com mais mortes por habitante

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Keiko Fujimori

Keiko se coloca como representante da democracia e promete respeito à Constituição, mas o sobrenome Fujimori faz com que ela tenha muita rejeição — sobretudo porque ela ainda elogia o pai, Alberto Fujimori, que governou o Peru em um regime autoritário na década de 1990.

Fujimori está preso por desrespeito aos direitos humanos. A herdeira do fujimorismo ficou presa entre 2018 e 2020, com intervalos em liberdade, acusada de corrupção envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht, em um escândalo que atingiu políticos de diferentes partidos.

Keiko ficou muito perto de não passar para o segundo turno da eleição, após uma primeira votação bastante fragmentada. No campo da direita, os votos ficaram divididos principalmente entre ela e os candidatos Rafael López Aliaga e Hernando de Soto.

Com o segundo turno definido, ela afiou o discurso contra o temor de que o Peru caísse em um governo de extrema esquerda, próximo de regimes autoritários como a Venezuela, com Pedro Castillo. O discurso teve muito eco nas cidades mais ricas, principalmente a capital Lima.

Keiko conseguiu o apoio até do escritor Mario Vargas Llosa, que concorreu contra Alberto Fujimori em 1990 e é um dos maiores opositores ao fujimorismo.

O vencedor do Nobel de Literatura defendeu que uma vitória de Keiko seria a chance de o Peru continuar sendo um país democrático, contra o que classificou como risco de arroubos autoritários das propostas de Castillo.

A candidata Keiko Fujimori e sua família tomam café da manhã, no distrito de San Juan de Lurigancho, antes da votação — Foto: Luka Gonzales/AFP

A candidata Keiko Fujimori e sua família tomam café da manhã, no distrito de San Juan de Lurigancho, antes da votação — Foto: Luka Gonzales/AFP

Durante a campanha, a candidata do partido Força Popular priorizou o discurso de moralização na política e de combate ao crime, mesmo envolvida em escândalos de corrupção e tendo sido presa.

Ao longo do segundo turno, Keiko Fujimori fez aceno a outros grupos para tentar diminuir a rejeição a fujimorismo e prometeu respeitar a democracia e as instituições públicas peruanas.

Conservadora, ela se posicionou contra flexibilizar a legislação sobre o aborto, mas admitiu aceitar uniões civis entre pessoas do mesmo sexo.

Veja algumas das propostas e promessas de Keiko Fujimori:

  • Manter a Constituição de 1993, promulgada no governo de Alberto Fujimori
  • Promover uma “verdadeira economia de mercado”
  • Fomentar turismo com a vacinação prioritária a profissionais desse setor e incentivos fiscais
  • Criar o Ministério da Pesca
  • Acelerar a formalização dos pequenos empresários peruanos
  • Firmar acordos entre os setores ambiental, agrário e da mineração, comumente em conflito político no país.

Pedro Castillo espera virada

O candidato do Partido Perú Libre à presidência, Pedro Castillo, durante o último debate antes das eleições, em 30 de maio  — Foto: Reuters/Sebastian Castañeda/Pool

O candidato do Partido Perú Libre à presidência, Pedro Castillo, durante o último debate antes das eleições, em 30 de maio — Foto: Reuters/Sebastian Castañeda/Pool

O resultado muito apertado da boca de urna indicava alguma esperança para o esquerdista Pedro Castillo, que liderou as pesquisas na maior parte da campanha, e ela cresceu com a contagem rápida dos votos, que o colocou numericamente à frente na disputa.

Aos 51 anos, Castillo surpreendeu no primeiro turno das eleições ao conseguir o maior número de votos em uma eleição bastante fragmentada. Com sucessivas crises políticas e quedas de presidentes, o Peru vive uma onda de descrédito em relação às principais forças do país.

Castillo se tornou nacionalmente conhecido em 2017, após liderar uma greve de professores de quase três meses que exigia aumento nos salários da categoria — uma das bandeiras que ele manteve ao longo da campanha.

O lápis, inclusive, se tornou o símbolo de sua candidatura e do partido Perú Libre. O dirigente sindical também promete garantir “acesso livre às universidades”.

O candidato nasceu na pequena cidade andina de Puña, na província de Chota, onde os moradores costumam usar chapéu de aba larga, que Castillo adotou durante a campanha e no único debate presidencial. No domingo, ele foi votar a cavalo na região andina de Cajamarca, onde reside.

A votação de Castillo no primeiro turno foi muito forte no interior do país, em províncias pobres e majoritariamente agrárias, o que se repetiu no segundo turno. Mas ele sofre grande rejeição na capital Lima e nas maiores cidades do país.

Castillo chegou a prometer no início da campanha desativar o Tribunal Constitucional, a Suprema Corte do país, e dizia que ela defendia a “grande corrupção”. Ele ameaçou também fechar o Congresso se os parlamentares não aceitarem seus planos.

Ao longo da corrida presidencial, no entanto, Castillo mudou de tom. Ele prometeu seguir a Constituição “enquanto ela estiver em vigor”, mas disse que buscará uma nova Assembleia Constituinte caso seja eleito.

Em relação aos costumes, Castillo adota postura mais conservadora: ele se recusa a legalizar o aborto, é contra o “enfoque de gênero” na educação e tem relutado em reconhecer os direitos das minorias sexuais.

Veja algumas das promessas e propostas de Pedro Castillo:

  • Descentralização do governo
  • Reforço à Polícia Nacional
  • Ampliar o acesso às refeições nas escolas
  • Criar o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação
  • Apoio às micro e pequenas empresas
  • Acesso livre e gratuito à internet
  • Prioridade à produção nacional

Por Redação do Sobral Pop News com  Emily Aragão / Fonte G1 

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