Alunos lidam com inseguranças e relatam perspectivas na reta final de preparação para o Enem 2020

Para os estudantes que cursam o último ano do Ensino Médio, já são muitos os desafios vividos durante a preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e, em 2020, com a pandemia e a realização de aulas remotas, as dificuldades se tornaram ainda maiores. Nesta edição, a aplicação das provas da modalidade impressa ocorrerá em 17 e 24 de janeiro de 2021. Já a versão digital está prevista para 31 de janeiro e 7 de fevereiro. Agora, a quase um mês da prova, alunos enfrentam inseguranças e ansiedades. No Ceará, são 322.594 candidatos inscritos na versão impressa e 3.112 na digital.

A estudante da Escola de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Doutor César Cals, em Fortaleza, Leticia Lima, 18, afirma ter pensado em desistir ao longo do ano. No entanto, o desejo de cursar a faculdade de Direito a faz manter o foco para a realização da prova. “Todas as crianças quiseram entrar em várias faculdades, mas esse sempre foi meu sonho”, diz.

No Ceará, segundo a Seduc, há cerca de 98 mil alunos matriculados no 3º ano do Ensino Médio. Desse total, 99% estão inscritos no Enem. No início do semestre, Letícia, incluída nessa conta, relata que estava seguindo uma organizada rotina de estudo, participando inclusive de aulas da Academia Enem, curso gratuito ofertado pela Prefeitura de Fortaleza. Porém, com o ensino remoto, precisou dividir a atenção entre as responsabilidades escolares e as atividades domésticas.

“Não achava que ia durar tanto quanto durou. No começo, não me fez muito bem, consegui me ajeitar melhor só no segundo semestre”, diz. Para retornar ao ritmo de estudo, precisou reservar um espaço dentro de casa, assim como conversar com seus pais sobre a necessidade de respeitarem o momento de estudo. A vontade de desistir, conta ela, vinha principalmente quando percebia que “não estava conseguindo entender muito bem as matérias, tendo uma dificuldade maior do que eu costumava ter”.

Letícia acredita que estaria melhor preparada se o terceiro ano tivesse sido cursado de modo presencial. Porém, afirma que irá realizar a prova com o máximo de calma, confiando em tudo que aprendeu e revisou ao longo do ano. “Vou fazer o Enem, espero conseguir tirar nota boa com os estudos que consegui realizar”, declara.

Assim como Letícia, o estudante do Colégio Maria Ester, Helmano Alves, 17 anos, também sentiu os impactos da mudança no estudo com a pandemia. “Acompanhar as aulas foi claramente complicado, eu acho que poderia ter estudado um pouco mais”, afirma, percebendo não ter tanta motivação e concentração como na escola. O celular e as atividades domésticas foram distrações que precisavam ser enfrentadas diariamente.

Durante alguns momentos da pandemia, o jovem considerou desistir chegando inclusive a perder o prazo de inscrição. “Não consegui pagar a tempo, mas depois adiaram, e tive como pagar e efetivar”.

Quando as escolas particulares aderiram ao ensino presencial, Helmano voltou a sentir a motivação que costumava ser força presente no início do ano. “Isso ajudou bastante na melhora e nos estudos, o apoio dos professores e amigos também”, comenta.

Agora, apesar de todas as mudanças vividas neste ano, acredita estar preparado para a realização do Enem. “Espero conseguir fazer uma boa prova para o Enem e passar. Acho que deve ser suficiente. Sempre no final do ano a gente fica com um pouco de medo”, pondera. Para 2021 tem expectativa de cursar Veterinária, mas ainda não decidiu. “Com certeza, mas pode ser biologia ou química”, afirma.

Desistir

Durante a preparação para o Enem 2020, nem todos os estudantes se sentem capacitado o suficiente para realizar a prova após os meses de ensino remoto. No caso do aluno da Escola de Ensino Médio (EEM) Adalgisa Bonfim Soares, Leon Lima, decidiu não fazer a prova, apesar de ter realizado a inscrição. “Isso é honestidade intelectual. Não acho que seria tão capaz de fazer este ano e decidi postergar”, explica, considerando as dificuldades enfrentadas para seguir com o ritmo de estudos na pandemia.

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Legenda: Leon Lima fez a inscrição, mas se sente inseguro para fazer a provaFoto: José Leomar

“Foi muito complicado por vários motivos, como questões psicológicas e teve também questões de estrutura, já que a escola possibilita um ambiente mais adequado para o estudo”, comenta.

Leon relata dificuldades de criar uma rotina dentro de casa, percebendo a perda do ritmo devido à necessidade de conciliar as obrigações de casa e os compromissos da escola. “Nem todos os lares se disponibilizam de silêncio”, aponta.

Além dos impactos na rotina de estudo, Leon também acredita que as questões sanitárias influenciaram a sua decisão. “Em relação a possível contaminação ainda no período de execução da prova”, exemplifica. Reforça ainda que “não foi um ano padrão. Não foi o que a gente imaginava estando na escola e ocorreu um desfoque no estudo ocasionado por este ano atípico”, conclui.

Preparação

A psicóloga e doutora em educação, Ticiana Santiago, percebe que os impactos da pandemia da Covid-19 reverberam tanto em estudantes do ensino público quanto privado. “Todos eles tiveram que ter mais autonomia e flexibilidade na rotina de estudo, sem contar com o suporte que teriam no modo presencial, que é mais direto, continuado”, compartilha.

Porém, a psicóloga pondera que a proporção das dificuldades enfrentadas foram mais intensas para alunos da rede pública de ensino, pois, nesse caso, eles estão sendo desafiados a “encontrar estratégias e recursos para se manter motivados e ativos”, aponta.

Nas últimas semanas antes do Enem, a psicopedagoga alerta para a importância de manter a rotina equilibrada, não realizando mudanças nas atividades já praticadas. “Não adianta intensificar ou modificar o que já vem fazendo. É necessário manter o padrão de atividades, de sono, de alimentação e de estudos”, comenta.

Dessa forma, os estudantes conseguirão realizar a prova com maior equilíbrio e menor ansiedade considera ela. Já em relação aos alunos que optaram por não fazer o exame, Ticiana recomenda que, se possível revejam a decisão e façam, “pelo menos como experiência”, finaliza.

Por Redação do Sobral Pop News com informações do Diário do Nordeste

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