Begonia maculata ‘Wightii’: a misteriosa origem da planta queridinha do Instagram

As folhas são de um verde escuro e profundo. Em contraste, bolinhas brancas se espalham como máculas (manchas) por sua superfície e parecem feitas à mão.

Não bastasse também seu formato recortado e assimétrico, que lembra o de “asas de anjo”, um vermelho pulsante surge na parte de trás da folha.

Essa combinação acabou tornando a Begonia maculata cv. “Wightii” (nome científico) uma das plantas mais queridinhas do Instagram. Dona de uma beleza enigmática, outro mistério que ronda as suas folhagens é o de sua própria origem.

“Essa planta não é da natureza, não é a planta que dizem ser nativa do Brasil, da região Sudeste, e que está em vias de extinção. Na realidade, essa planta é um cultivar”, explica Samuel Gonçalves, doutor em botânica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Os cultivares como a “Wightii” são vegetais que passaram por transformação durante o cultivo feito por humanos. Novas características surgiram nesta begônia criada em viveiro, e a variedade passou a ser replicada intencionalmente por seu valor comercial.

Begonia maculata 'Wightii' tem suas famosas pintas brancas — Foto: Rafael Miotto/g1

Samuel Gonçalves explica que os cultivares podem surgir de maneira natural ou de forma induzida por humanos. “São selecionados as melhores plantas para que características sejam mantidas. Isso é o melhoramento genético”, explica.

“A Begonia maculata de fato, ocorre apenas no Rio de janeiro; é uma planta com populações pequenas”, explica Eliane de Lima Jacques, doutora em botânica pela Universidade de São Paulo (USP).

Em contraste com o verde da frente, as folhas da Begonia maculata 'wightii' tem uma coloração rubra na parte de traz — Foto: Rafael Miotto/g1

Mas qual o mistério?

O primeiro registro histórico sobre a “Wightii” é de 1933, quando o botânico Karl Albert Fotsch a descreveu no livro “Die Begonien” (“As Begônias”, em tradução livre para português).

A planta nativa do Brasil tem registro anterior, de 1819, descrita pelo italiano Giuseppe Raddi.

“A Begonia maculata ‘Wightii’ tem que ter vindo da Begonia maculata ‘Tipo’, a original do sudeste brasileiro. Só não dá pra se afirmar como esse cultivar foi produzido ou como ele surgiu”, afirma o botânico Samuel Gonçalves.

Begonia maculata nativa do Rio de Janeiro não tem pintas tão grandes e nem folhas tão recortadas — Foto: J.Wesenberg / Eliane Jacques

No entanto, essa origem não é um consenso entre os estudiosos. Como falta material histórico sobre a criação da “Wightii”, a ligação com a Begonia maculata (nome científico) endêmica do Rio de Janeiro acabou se perdendo, afirma Eliane, que é especialista em taxinomia (ciência que classifica organismos vivos) de Begoniaceae, a família de plantas da qual as begônias fazem parte.

“Nós não temos os materiais que atestam esse nome, ficamos acreditando nesta similaridade [entre a Maculata nativa e a ‘Wightii’] porque o autor [Fotsch] descreve, mas nenhum material foi encontrado em um herbário com esse nome de ‘Wigthii'”, aponta Eliane.

A hipótese defendida pela botânica é que a “Wightii” surgiu por meio de variedade de begônia levada para a Europa por naturalistas no século 19. “São plantas que chegavam ao Jardim Botânico de São Petersburgo [Rússia] e eram disseminadas”, diz Eliane.

Esse processo pode ter sido o responsável pelo surgimento da “Wightii”. “Dentro da própria estufa, muitas deles podiam se hibridizar”, diz a botânica.

Existem mais de 2.060 espécies de begônia espalhadas pelo mundo. Elas vivem, sobretudo, em zonas tropicais da América, África e Ásia.

Begonia maculata 'Wigthii' é altamente instagramável — Foto: Rafael Miotto/g1

Mudas da ‘Wightii’ vêm da Holanda

A grande onda da “Wightii” começou em 2020 no Brasil. Com o crescimento da procura por plantas ornamentais para dentro de casa durante a pandemia, a planta cheia de pintinhas virou febre.

No início, a Flora Fujimaki vendia cerca de 100 unidades da planta por semana para lojas – eles não comercializam diretamente ao consumidor. Mas a procura era tanta que a “Wightii” chegou a atingir valores de R$ 400 em alguns revendedores.

Criação da Begonia maculata 'Wightii' no Brasil a partir de mudas vindas da Holanda — Foto: Flora Fujimaki

“Hoje nós conseguimos uma produção que consegue atingir bem o mercado, e o preço baixou”, afirma Rita Takahashi, analista comercial da Flora Fujimaki, uma das pioneiras da venda da “Wightii” no Brasil.

“O encarecimento não foi positivo, porque parecia um produto inacessível. Hoje é possível achar por a partir de R$ 49,90 em alguns pontos”, diz. A Flora Fujimaki vende até 4 mil dessas begônias em uma semana.

As mudas vêm da Holanda ao Brasil via um importador. “Elas chegam bem pequinininhas e podem levar de 15 a 20 semanas para chegar ao porte de venda, dependendo do tamanho do pote [vaso]”, conta Rita.

g1 entrou em contato com a Terra Viva, responsável pela importação da “Wightii”, para obter mais informações sobre a origem da planta na Holanda, mas a empresa não respondeu as perguntas enviadas até a última atualização dessa reportagem.

Como cuidar da Begonia maculata “Wightii”

A planta é considerada fácil de cuidar. Veja algumas dicas do botânico Samuel Gonçalves a seguir:

Rega: são plantas que gostam de umidade, mas o substrato não pode ser muito encharcado, permitindo que a superfície seque entre as regas.

Substrato: deve ser fértil, fibroso e rico em matéria orgânica. É preciso de adubação frequente para que a planta se desenvolva. O indicado é o NPK líquido 10 10 10 uma vez ao mês.

Luz: precisa de muita claridade, de luz indireta, para seu desenvolvimento. Pode também ser adaptada ao sol pleno, para isso, deve-se ir aumentando gradativamente a sua exposição ao sol.

Poda: fazer apenas a limpeza, retirando folhas velhas e as flores (sim, ela esporadicamente também dá flores) que secarem.

Begonia maculata 'Wightii' é de fácil cuidado — Foto: Rafael Miotto/g1

Dá para fazer muda?

Sim, e não é difícil. “Bastar cortar a pontinha de um caule que tenha duas ou três folhas e colocar o caule na água, após o enraizamento, basta plantá-la em substrato adequado [fibroso e rico em matéria orgânica]”, diz o botânico Samuel Gonçalves.

Também é possível tentar fazer uma muda a partir das folhas. “Mas o enraizamento é um pouco mais demorado”, explica.

Por Redação do Sobral Pop news com J Oliveira/ Fonte: G1/CE

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