Venda de insumos da agricultura familiar para alimentação escolar complementa renda de estudantes da zona rural do Ceará

A merenda escolar é fonte de energia para estudantes da rede pública de ensino em todo o País e, no Ceará, ela também tem sido importante para ajudar a complementar a renda de estudantes e agricultores familiares que vendem insumos alimentícios para as escolas.

Em um dos municípios cearenses onde isso ocorre vive a estudante do quinto semestre do curso de Zootecnia do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Geyse Martins. A aluna e produtora, de 27 anos, mora no Assentamento Palmares, em Crateús, no Sertão Central do Ceará, e desde 2018 fornece, com um grupo de mais seis boleiras, insumos para a merenda escolar do Campus de Crateús, onde estuda desde 2017.

A merenda do Instituto vem quase integralmente da agricultura familiar e parte disso é produzida pelo grupo de mulheres. Com a venda de bolos e tapiocas, cada integrante chega a ganhar entre R$ 150 a R$ 300 por venda, dependendo da quantidade produzida. A renda média das mulheres é igual ou inferior a um salário mínimo (com complemento de benefícios do Governo Federal). Para a estudante, a atividade “movimenta a renda local, valoriza os produtos cultivados e dá oportunidade financeira aos produtores”.

Os benefícios são vivenciados, também, na rotina de quem consome o alimento, Segundo Caroline Cabral, diretora de Assistência Estudantil do IFCE, “a alimentação do estudante no ambiente escolar fica mais aproximada do que ele já tem o hábito de comer”. Além disso, “os nutricionistas podem desenvolver um cardápio mais saudável e com menos defensivos agrícolas”, aponta a gestora.

Itens mais baratos

A compra da produção familiar, além de ser mais saudável, é também financeiramente mais viável. Segundo Francinildo Lima, diretor de Administração do IFCE do Campus Iguatu, na região Centro-Sul, a expectativa é que os produtos sejam cerca de “20% mais baratos, já que as compras são realizadas direto com o produtor”. Em 2019, o Campus gastará R$ 92 mil neste modelo de aquisição.

O recurso tem impacto direto na vida de Lucivam José Vieira, que hoje preside a Cooperativa da Região Centro-Sul, entidade da agricultura familiar. O técnico agrícola concluiu o curso de Agroindústria no Instituto e incrementou o negócio da família, de polpa de frutas. Com a venda, tanto para o IFCE como para escolas estaduais da região, a renda mensal do seu núcleo familiar chega a R$ 2 mil.

Poucos municípios cumprem cota mínima

Assim como Geyce e Lucivam, outros produtores familiares vendem seus produtos para instituições de ensino. Os repasses para aquisição vêm do Programa Nacional de Alimentação Escolar, que repassa aos estados, municípios e escolas federais, os valores financeiros de acordo com o número de alunos de cada instituição. O Programa determina que, pelo menos, 30% dos recursos sejam comprados diretamente da base familiar.

Apesar de recentes evoluções, o número de municípios que conseguem atingir a meta estipulada precisa crescer. No Ceará, segundo o último levantamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDA), dos 184 municípios do Estado, 113 não atingiram o percentual mínimo. A situação reflete as dificuldades que os produtores ainda têm na aquisição de certificação específica.

O engenheiro agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Amairton Rodrigues, explica que vários fatores impedem que a meta seja atingida. Ele aponta que “os agricultores ainda não têm a infraestrutura necessária para suprir a demanda, os municípios também não”, relata. Uma das alternativas levantadas é que a produção seja feita por meio de cooperativas ou associações.

“A maioria ainda vende individualmente. O quadro vai melhorar quando eles (produtores) estiverem organizados em cooperativas. Nós temos condições de organizar isso e estamos trabalhando bastante nesse sentido”, garante.

*Sob supervisão do jornalista Alan Barros

Por J Oliveira do Sobral Pop News com informações do G1/CE

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