Trabalhadores essenciais: o dia a dia de quem não pode se isolar

São incontáveis as categorias profissionais que permeiam nosso cotidiano. Das que edificam estruturas às que mediam conflitos, parte precisou remodelar as atividades para o regime home office, devido à pandemia de Covid-19. Outras, porém, consideradas essenciais, não tiveram essa opção, a exemplo de coletores de lixo e caixas de supermercado. Embora o “medo” seja uma sensação predominante, neste Dia do Trabalho, eles relatam que é preciso coragem e empatia para atravessar o cenário turbulento.

Dez dos 40 anos de vida da agente de saúde Marta Costa são dedicados à promoção da saúde de famílias do entorno da Barra do Ceará. O acompanhamento em domicílio leva informação sobre doenças crônicas e sazonais, como diabetes e gripe, respectivamente. Contudo, o Sars-CoV-2 “deu um nó”, como ela diz, se referindo ao temor de exercer a profissão em meio às confirmações diárias de infectados.

“A gente é o elo entre a comunidade e a atenção primária. Eu me sinto muito importante nesse processo, sim, mas o sentimento que eu tenho é de muito medo, porque sou casada e tenho dois filhos pequenos. Medo de contrair o vírus e de trazer para dentro da minha casa. É inevitável não sentir isso”, desabafa.

O receio já começa nas primeiras horas da manhã, enquanto vai iniciar mais um expediente. “Eu já acordo pedindo a Deus que isso tudo acabe logo”, confessa. Ao mesmo tempo, o próprio trabalho a encoraja. “Sei que tem gente precisando de mim e vou, tomando as medidas que a Organização Mundial da Saúde indica, que é o uso de máscara e de álcool em gel 70%“.

Os cuidados se estendem ao chegar em casa. Calçados e roupas usados durante o percurso pelas ruas da Capital são colocados separadamente. Em seguida, um banho para eliminar as impurezas. Para Marta, cada um deve assumir o compromisso de praticar os hábitos de prevenção “em nome de todos que ama”. Ela reforça que além de máscara e higiene das mãos, é necessária a reclusão domiciliar. “Eu peço, encarecidamente, fique em casa, porque a gente está com um número alto de mortos. Muito mais que números, são vidas”, alerta.

Resgate

E lidar com vidas, ainda que em condições clínicas instáveis, é também uma das missões de Jânio Feitosa, sendo a mais honrosa de todas, sugere. Condutor de ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o tempo é fator predominante na sua rotina. Quanto mais rápido for o deslocamento, maiores são as chances de reverter o quadro de saúde de quem está debilitado.

O profissional leva equipes de resgate para atendimentos na Capital e Região Metropolitana (RMF) há duas décadas, período em que adquiriu confiança e agilidade para lidar com o novo a cada plantão de 24h. No entanto, apesar da experiência de anos, o atual surto do novo coronavírus trouxe fragilidades emocionais, que o deixam apreensivo, mas não impedem de cumprir os pedidos de socorro.

“Eu saio de casa com aquela ideia de fazer um serviço bem feito, mas com a preocupação de me contaminar, que é o meu maior medo, porque faço parte da linha de frente e vejo de perto o poder de transmissão que ela tem. Todo dia, é como se a equipe fosse o soldado que vai atrás do inimigo, que é a doença”, reflete.

A demanda de chamados no 192, telefone do Samu, aumentou a partir da disseminação comunitária da Covid-19. “Tem sido muito trabalho, porque tudo hoje se leva para essa doença. Os pacientes apresentam sinais e sintomas que indicam ser o novo coronavírus. Até que se prove o contrário, a gente sempre redobra os cuidados”.

O ofício ganhou o reconhecimento da vizinhança, com elogios e palavras de gratidão. “As pessoas fazem isso, mas ficam com receio de estar perto de ti, de ter uma aproximação”, pondera. A realidade turva limita abraços, toques e um contato físico próximo, só não acaba com a esperança e a crença de Jânio. “Tenho fé em Deus que vamos superar tudo isso, porque tudo que Ele está à frente, dá certo. Todos precisam colaborar”, afirma o motorista com a voz embargada.

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Leandro Barbosa leva água e informação para clientes do Monte CasteloFoto: Thiago Gadelha

A contribuição vai ao encontro das possibilidades de cada um. No caso do entregador de águas Leandro Barbosa, 30, além da etiqueta básica de higiene consigo e com o produto que distribui, utiliza outro importante artifício: a voz. “Sempre tento alertar os meus clientes para que eles se cuidem, assim como a gente que continua trabalhando”, reforça. O mesmo movimento para conscientização se repete entre os familiares.

De domingo a domingo, Leandro chega a despachar até 25 garrafões de água no bairro Castelão e adjacências. A quantidade é superior ao período antes da quarentena. O ir e vir de bicicleta a diferentes residências o deixa amedrontado, mas como a atividade não teve restrição das autoridades sanitárias, ele continuou. É das entregas, inclusive, de onde vem o sustento de casa. A irmã, que era ajudante de pizzaiolo em um restaurante, foi demitida; e o pai, zelador de clínica, está parado porque o estabelecimento fechou temporariamente.

“Por isso, eu desejo melhoras para todo mundo e que esse negócio ruim passe logo. Tem muita gente que precisa trabalhar, como o meu pai, que tá há três meses sem ganhar nada. Eu tenho que me virar com a venda das águas, porque senão não entra comida em casa”, desabafa.

Rotina

Já o porteiro Júnior Alcântara, 32, mora sozinho, mas mantém todos os cuidados individuais para evitar a contaminação. O fluxo de todo dia é o mesmo: de casa para a guarita do condomínio onde trabalha e vice-versa. A rotina só é descumprida quando vai ao supermercado. Com a pandemia, a entrada de visitantes no prédio diminuiu, o que para ele não impede a exposição. “A movimentação caiu muito, mas o álcool e a máscara estão sempre comigo”, assegura.

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Para o porteiro Júnior Alcântara, a doença precisa ser encarada com seriedadeFoto: Thiago Gadelha

Cuidado, porém, não é o que ele testemunha quando assiste ao descumprimento do isolamento social – durante transmissão de shows musicais na internet, por exemplo. “O orientação é evitar aglomerações, mas nessas lives as pessoas pensam que é para curtir juntas, aí chamam os amigos”. Atitudes assim, ele complementa, impedem a diminuição dos casos. “Eu acabo ficando com medo, porque enquanto uns se protegem, outros não dão atenção”.

Por Redação do Sobral Pop News com informações do Diário do Nordeste

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