Técnica da Conservação e restauro com Professor Júlio Barros

3º Artigo do PATRIMONE-SE – Técnicas da conservação e restauro

Sou de Ouro Preto, vivo em Sobral terra abençoada e berço natalino de minha esposa Alzirinha e meu filho Arcanjo.Na bagagem da Villa Rica das Minas Gerais, trago a cultura, “meu jeito de ser” e as tradições de família mineiríssima de educação ilibada, moldada pelo amor aos livros, a ética e pelo respeito absoluto aos antepassados, seus legados e tradições construídas sobre pilaresda dedicação ao trabalho e a absoluta influência dos valores Cristãos. Neste Ouro Preto das Confrarias, dos Mestres das Artes e Ofícios e berço da liberdade me formeiapós muito estudo/conhecimentos, desenvolvimento de habilidades e técnicas particulares, em  Restauração e Conservação de Bens Móveis, sob a tutela do Mestre Jair Afonso Inácio, funcionário do IPHAN e Dr. Honoris Causa do Instituto Real da Bélgica, na convivência feliz da 1ª Escola de Restauração e Conservação de Obras de Arte do Brasil,a Escola Rodrigo Mello Franco de Andrade, na FAOP (Fundação de Artes de Ouro Preto – formei em 1976, após dois anos de Estágio na Bahia). Na FAOP,concomitantementeao curso de “Restauro”, estudávamos também nos cursos, das artes plásticas como Gravura, Pintura, Desenho, Escultura, Arte em Couro, Cantaria, Forja Artística e História das Artes ministrados por renomadosProfessorescomo Jader Barroso, Nelo Nuno, Ana Amélia Rangel, Petrus, Amilcar de Castro, Moacir Latersa e outros. Entre voltas e participação dedicada no GETOP, Grupo Experimental de Teatrode Ouro Preto e em tempo integral contemplávamos e pesquisávamos pelas ruas e becos daquele que é o maior conjunto arquitetônico colonial português do mundo as arquivoltas das três fases Barroco Mineiro.Nos festivais de inverno, nos museus e palestras de Doutos (as) como Orlandino de Seixas Fernandes, Carlos Escliar, Domitila do Amaral, Murilo Rubião, Padre Simões, Dom Barroso e meu querido tio Cônego Mendes, forjamos o que podemos chamar de base cultural/acadêmica em um ambiente de arte, história, filosofia e valorização da cultura.Lapidado, dediquei ao estudo das Madeiras úteis da construção civil, no IPT, na Associação Brasileira de Proteção de Madeiras, na Universidade de Viçosa e às técnicas construtivas tradicionais, juntando formações no Brasil, Alemanha e Portugal (estudo que me dedico até os dias de hoje).Em 1982 tive a honra de iniciar carreira como professor da Escola que estudei, onde permaneci por mais de 20 anos com a cadeira de Identificação e tratamento do Suporte Madeira. Para construir e coordenar o POEAO, o Projeto Oficina Escola de Artes e Ofícios que se transformou em um programa de Formação Profissional de muito sucesso e atuou em seis Estados em oitenta e quatro Cidades, estudei e me formei em Pedagogia Plena, me especializando em Psicopedagogia e Direito Ambiental.Entre estudo muito trabalho e dedicação de toda uma vida, viemos para Sobral, nos ingressamos como professor no Centro Universitário INTAe neste momentocomo Mestre dos Ofícios Tradicionaisescrevo este Artigo, o 3º PATRIMONE-SE para o Sobral Pop News, dedicando-o ao Dr.Oscar Rodrigues Junior, Magnífico Reitor do UNINTA, aospreciosos amigos do UNINTA, ao Antônio Cleilson que deseja ser Mestre, aosestudantes, pesquisadores, historiadores, professores, engenheiros, arquitetos e todo esse povo generoso de Sobral que me acolheram com atenção e carinho.

Hoje vamos falar da presença e influência Chinesa na vida e constituição da cultura brasileira através de nossos antepassados. Esta influênciaconstruiu vários aspectos de nossa formação abarcando desde aspectos fulcrais da ordem social – como a severa submissão feminina … nas famílias tradicionais as senhorinhas do passado, saíam de casa por três ocasiões: batismo, casamento e enterro, fora isso nas festividades religiosas importantes, nas missas dominicais e só. Por isso as balaustradas separando os acentos das naves das igrejas para evitar os flertes, namoricos a distância e beslicões, uma vez que estas moças ficavam ao centro acompanhada pelas famílias e ladeadas pelo pai e pela mãe. Observemos as brincadeiras e folguedos, passando pelo vestuário, mobiliário, artes e ornamentação, arquitetura, culinária, utensílios e até a flora representada pelas mangueiras, jaqueiras, coqueiros, tamarindos e gameleiras tão presentes entre nós, que já se tornaram filhas da terra.

“CHINESICES”, Traçados nas Artes e Edificações de nossa história colonial

O intercâmbio cultural que resultou nas chinesices não se limita, no entanto, às cidades diretamente ligadas ao ciclo do ouro. Temos o chinoiserie em Ouro Preto Diamantina, Sabará, na Fazenda do Belo Vale etambém em Cachoeira do Paraguaçu e outras localidades da Bahia, Pernambuco e em tantos lugares que seria um trabalho a parte enumerá-los.Este fenômeno bem amplo, registrados em detalhes e concepções, dos monumentos das cidades, Vilas e nos prédios das Fazendas históricas, virou costume ainda replicado intuitivamente em pleno século XXI.

Engenho Megaípe, Jaboatão dos Guararapes/PE, demolido em 1928. Ilustração Fedora do Rego Monteiro Ferraz

Para nós restauradores, os telhados, quedefinimos como quinta fachada, nos conta muitas histórias e nos revela enormes segredos, cada desenho, cada elemento, como a exemplodas telhas e as argamassas, as cores e pigmentos etc nos dá datas, estilos e informações variadíssimas. Para nós, percebermos esse “Chinesismo” ao observarmos os telhados das igrejas e das casas iniciamos nosso olhar pela linha de cumeada, pelas torres em destaque, que graças a sua altura e ao formato de seus telhados as vezes em“pagode chinês” deixam clara o gosto e técnica Chinoiserie, com adornos nas extremidades com telhas de bico, algumas em forma de folha de acanto, as grimpas das igrejas são encimadasesferas armilares, a exceção da igreja de Nossa Senhora do Rosáriodo Ó de Sabará, onde está presente uma águia bicéfala, símbolo ao mesmo tempo do milenarismo jesuítico e da casa real dos Habsburgos, da qual nossos imperadores eram descendentes. Muitas casas, especialmente as de maior porte, possuem telhados de quatro águas, também com telhas de bico nas quinas de encontro, observem por exemplo a solução adotada se utilizando de galbos do contrafeito (galbos soberbos), que permitem a mudança de ângulo, proporcionando a curvatura das extremidades promovendo a curva de Braquistócrona, objetivando tecnicamente acelerar a velocidade das águas de chuva e lança-las o mais longe possível das paredes, criando valor agregado na conservação dos edifícios e ainda um arremate, para que os cachorros sustentem o beiral, completados pela cimalha que faz umabela e imponente terminação com a parede.

Da literatura às artes visuais. No período colonial, Debret, Fédora do Rego Monteiro Ferraz e outros artistas registraram construções de inspiração oriental que não existem mais. Guignard encontrou em Minas Gerais cenários ideais para pintar chinesices. Em 1984, quatro selos postais formaram a série Pinturas chinesices séc. XVIII, na Catedral de Mariana/MG. O fotógrafo Eduardo Trópia produziu fotos sobrepostas de chinesices em igrejas mineiras para exposições no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto. Ele também participou da Bienal de Fotografia da China 2016, onde expôs uma imagem da Igreja de Santa Efigênia, dentro do tema O retorno à sabedoria oriental. Outras artes já complementaram e ainda vão enriquecer a história viva das chinesices no Brasil.

Igreja de Nossa Senhora do Carmo de Diamantina/minas Gerais. Cidade que possui Ruas com a denominação de Macau de cima, Macau do Meio e Macau de Baixo. Nas fotos acima, observem as Ceteiras os telhados de Pagode (Chinoiserie) e decorações em “Ss” e “Cs”. Também as cores, em Óxido de Ferros hidratado que ressalta o gosto pelo vermelho e ocre.

{Macau (em chinês mandarim, Àomén; em cantonês, Oumun) ou oficialmente, a Região Administrativa Especial de Macau – R.A.E.M., é uma região especial da China existente desde dezembro de 1999. Seu território compreende a península de Macau e as ilhas de Taipa e Coloane, num total de 29,5 km². Território português durante quase 450 anos, Macau é hoje uma das duas R.A.E.M. da República Popular da China, junto a Hong Kong. Possui cerca de 550 mil habitantes e tem duas línguas oficiais, o português e o chinês (mandarim como oficial, e o cantonês, mais falado nas ruas). Além disso, desenvolveu-se no território o patuá macaense, língua local de influência portuguesa e cantonesa, que apesar de hoje em dia sofrer ameaça de extinção, vem sendo resgatado, principalmente entre a população mestiça luso-chinesa.}

Essa sensação de vermos as “Chinesises” em nossa história, não se resume somente a esfera dos sentidos, nos remete atmosfera configuradanuma ambiência de símbolos, gostos e signos ligados ao imaginário da China, milenar, particular e mítica. Agora informados, podemos estender nosso olhar sobre Sobral de antes e de hoje e procurar a presença de algo que estabeleça vínculos emocionais e imagéticos com essa parte de nossa história.

O viajante, poliglota, diplomata, escritor e espião britânico, Richard Francis Burton, esteve em Diamantina em 1867 e relata o aspecto de prosperidade encontrado, bem como ao colorido das casas e seus jardins verdejantes, e a confusão de igrejas de duas torres ou uma só, que testemunham a religiosidade do lugar. Em seguida refere-se a uma rua chamada Macau do Meio e afirma que ninguém da localidade não sabia o porquê. Homem viajado e culto, a nominação da rua deve-lhe ter chamado a atenção e mais ainda o desconhecimento do povo da cidade sobre a origem e a causa da denominação que provavelmente marcava a presença de chineses de Macau na localidade, isso como a Rua da Fumaça, no bairro do Padre Faria em Ouro Preto, onde comprovadamente residiam chineses que produziam entre outras coisas, velas (por isso a fumaça).

Por Júlio Barros do Sobral Pop News

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