Restrição às armas, cuidado com a saúde mental e prevenção: especialista avalia medidas dos EUA contra ataques em escolas

O ataque a uma escola de Suzano, na Grande São Paulo, deixou 10 mortos na quarta-feira (13). É o primeiro do tipo no Brasil neste ano. Nos Estados Unidos, as autoridades lidam com o problema há mais tempo – e com maior frequência. O massacre de Columbe, com 15 mortes de estudantes em Colorado, completa 20 anos em abril.

Mas, então, como o Brasil pode aprender com os americanos?

A agência federal de investigações dos Estados Unidos (a Federal Bureau of Investigation, ou FBI, na sigla em inglês) avalia os “assassinatos em massa” de forma especial dentro da justiça criminal. O tema envolve o interesse da mídia, de especialistas em saúde mental e do público em geral.

O FBI prefere usar o termo “atirador ativo”, que é definido por “um indivíduo em ação para matar ou tentar matar um grupo de pessoas em uma determinada área”. O Serviço de Pesquisa do Congresso (em inglês, Congressional Research Service, ou CRS) prefere usar outra definição: “Assassinatos em massa”, quando “três ou mais mortes estão no mesmo incidente”. Os crimes podem ocorrem em locais públicos – como escolas e universidades – ou entre famílias e brigas de gangues.

Desde 1990, de acordo com o Serviço de Pesquisa do Congresso, foram registrados 87 tiroteios em massa nos EUA (dados de 2017). O número de crimes do tipo é 2,4 vezes maior na última década (2008 a 2017) do que na década anterior (1998 a 2007). Esse número pode variar de acordo com o órgão que contabiliza – cada um usa uma definição diferente para contabilizar os casos.

Como prevenir?

O psiquiatra americano Reid Reloy, da Universidade de San Diego, presta consultoria de segurança sobre os ataques nos Estados Unidos. Ele é autor de mais de 200 artigos em revistas científicas sobre assuntos relacionados e sobre o próprio tema.

“Existem três áreas em que precisamos trabalhar. Uma é a disponibilidade de armas de fogo, com foco no registro universal de armas de fogo. Precisamos trabalhar para manter armas de fogo longe de pessoas com risco de serem violentas ou pessoas que já ameaçaram violência ou tenham antecedentes de violência doméstica”, disse em entrevista ao G1.

Ele disse que há um forte movimento político nos Estados Unidos, tanto no nível federal quanto no nível estadual, para que seja criada uma nova regulamentação das armas.

“Em relação ao novo regulamento de acesso a armas de fogo no Brasil, acredito que seria um problema para evitar tiroteios em escolas. As políticas agora estão se concentrando em tornar as armas de fogo menos disponíveis, e não o contrário”, disse em referência aos debates recentes feitos no país.

A segunda área que Reloy aborda para a prevenção dos ataques em escolas é a da saúde pública. Ele defende melhores cuidados de saúde mental em escolas, especialmente para os adolescentes. As políticas devem se concentrar em tornar esses serviços mais disponíveis e receber mais financiamento, segundo ele.

O psiquiatra conta que também é importante desenvolver grupos de avaliação de ameaças dentro das escolas – uma equipe pequena na escola ou no campus da universidade composta por um policial, um administrador, um conselheiro escolar e um profissional do direito.

“O que eles fazem é olhar para o clima geral na escola para reduzir os fatores gerais de risco em toda a escola. A partir daí, eles podem se concentrar especificamente em alunos que já foram notados por professores ou alunos”, explicou.

“Se o aluno está ficando mais isolado, se o aluno está sendo violento, se ele pesquisa violência ou armas de fogo nos computadores da escola, esses são exemplos que aumentariam a preocupação entre alunos e professores para que eles pudessem se dirigir à equipe de avaliação de ameaças. Então a equipe poderia avaliar o risco e administrá-lo”.

Em alguns casos, como noticiou o jornal americano “Chicago Sun Times”, as escolas chegam a instalar detectores de metal na entrada. Instituições de Detroit, Los Angeles e Nova York já tomaram a medida. Este último estado chegou a aprovar um pacote de leis para implementar os detectores e aumentar a tecnologia de segurança para os estudantes.

O papel da mídia

A pesquisadora americana Jaclyn Schildkraut, autora de livro sobre massacres em locais públicos nos EUA, disse em entrevista à rede britânica BBC que o destaque na mídia serve como uma “recompensa”  para os atiradores.

“Tipicamente, a cobertura da mídia é centrada no atirador, em vez de focar nas vítimas ou nos heróis que responderam ao ataque”, diz Schildkraut à BBC News Brasil.

Reloy também aborda o assunto da relação da mídia com os ataques em massa:

“Quando a mídia cobre o tiroteio na escola, se a cobertura está em todo o país e a imprensa está cobrindo em detalhes, a cobertura tende a aumentar o risco de novas filmagens por cerca de um período de duas semanas após a cobertura da mídia. Então você tem o que é chamado de efeito contagioso para o tiroteio na escola e a imprensa se torna o hospedeiro dessa doença.”

A fala de Reloy está relacionada com um estudo publicado em julho de 2017, assinado pelos pesquisadores Adam Lankford e Sarah Tomek. Eles buscam comprovar a imprensa também tem uma influência nos casos de tiroteio, assim como já foi comprovado com relação aos suicídios.

Os autores analisaram dados de 2006 a 2013 nos Estados Unidos e chegaram a seguinte resposta: os assassinatos em massa são “socialmente contagiosos” nos próximo 14 dias. Ou seja: as notícias podem influenciar novos ataques por mais duas semanas.

Por G1

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