MP de Contas pede suspensão da transferência de R$ 83,9 mi do Bolsa Família para propaganda

 O Ministério Público apresentou ao Tribunal de Contas da União (TCU) uma representação pedindo a suspensão de uma portaria do governo federal que transfere R$ 83,9 milhões de renda do Bolsa Família para a comunicação institucional da Presidência da República.

Conforme o Estadão mostrou nesta quinta-feira, 4, o governo determinou o remanejamento da verba da Região Nordeste para publicidade de ações da gestão Bolsonaro. A medida tomada durante a pandemia recebeu uma série de críticas, mesmo no Congresso.

O procurador de Contas do TCU, Lucas Rocha Furtado, afirmou que o ato do governo causa “espanto e incredulidade”. “Parece nítido o atentado ao princípio da moralidade quando se remaneja recursos destinados à segurança alimentar de famílias nordestinas em extrema pobreza para a realização de publicidade institucional da Presidência da República.

“Se era necessário reforçar o orçamento da Secom, porque não foram utilizados recursos de outras áreas, que não aqueles destinadas ao apoio de famílias fragilizadas pela pobreza, em plena crise de pandemia da covid-19?”, disse o procurador, que é cearense. Segundo ele, o remanejamento fere a Constituição, porque ela exige a assistência dos desamparados.

Furtado destacou, em sua representação, que existem “outros atos e fatos em que a política discriminatória do atual governo em relação ao Nordeste brasileiro” sendo apurados no TCU.

Os gastos da Secom com publicidade estão na mira do TCU e do Congresso Nacional. Relatório da CPMI das Fake News apontou que governou veiculou 2 milhões de anúncios em canais com conteúdos considerados “inadequados”. A lista inclui páginas que disseminam fake news, propagam jogos de azar ilegais e até sites pornográficos.

A pedido do próprio Lucas, e com autorização do ministro decano do tribunal, Walton Alencar Rodrigues, foi aberta uma inspeção na Caixa para apurar se Estados e municípios do Nordeste foram discriminados na concessão de empréstimos e financiamentos pelo banco desde a posse do presidente Jair Bolsonaro.

A inspeção na Caixa, ainda não concluída, se baseou em uma reportagem do Estadão, de acordo com a qual só 2,2% dos novos empréstimos concedidos de janeiro a julho de 2019 foram para governadores e prefeitos nordestinos – R$ 89 milhões, de um total de R$ 4 bilhões. Além disso, em outra ação, o tribunal apura se novas concessões do Bolsa Família favoreceram regiões apoiadoras ao atual presidente da República. A região é governada, em sua maioria, por políticos de oposição a Bolsonaro.

Em relação à recente decisão de transferir verbas do Bolsa Família direcionadas ao Nordeste para gastos com publicidade, o procurador vê “aparente voluntarismo em penalizar apenas a Região Nordeste” e isso seria, se confirmado, segundo Furtado, “flagrante desvio de finalidade pública”.

Ministério da Economia publicou nota afirmando que nenhum beneficiário do programa Bolsa Família foi prejudicado no recebimento de seu benefício, tendo em vista a instituição do auxílio emergencial de R$ 600 e disse que o remanejamento tem previsão legal.

A justificativa da pasta é de que a maior parte das famílias inscritas no programa recebeu, em abril, o auxílio emergencial de R$ 600 do governo pago durante a pandemia do novo coronavírus. Como não podem acumular benefícios, o repasse do Bolsa Família para estas pessoas foi suspenso, o que, então, teria gerado a “sobra” de recursos. Ainda há, no entanto, uma fila de 430 mil famílias esperando para entrar no programa.

O procurador afirmou que a explicação do Ministério da Economia deve ser vista com reserva, porque diversos solicitantes do auxílio emergencial vêm tendo dificuldades para obter o benefício, o que já foi constatado pelo próprio TCU.

Em um processo de relatoria do ministro Bruno Dantas, o tribunal determinou que os ministérios da Economia, Cidadania, Receita Federal e Controladoria-Geral da União se manifestem sobre problemas como a dificuldade de acesso à bases completas da Receita para verificar se quem pede o auxílio se encontra elegível para recebê-lo.

Por Redação do Sobral Pop News com informações do Msn / Estadão

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *