Mondubim é o bairro com mais casos de violência contra a mulher

A violência contra mulheres não é estranha à cidade de Fortaleza. Enquanto as estatísticas se multiplicam nas ruas, algumas áreas se mostram particularmente mais hostis para a população feminina. De junho de 2017 a novembro de 2019, o bairro Mondubim registrou o maior número de casos desse tipo, conforme dados divulgados ontem (9) pela plataforma Observatório da Mulher.

A ferramenta consiste em um site, lançado pela Secretaria Municipal dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS), desenvolvido em parceria com a Universidade de Fortaleza e a Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação (Citinova). O endereço eletrônico observatoriomulher.Fortaleza.Ce.Gov.Br é aberto ao público, e apresenta a quantidade de casos de violência cometida contra mulheres e registrados pelo Centro de Referência da Mulher (CRM), que recebe e acolhe as vítimas em situação de violência e fornece os dados à plataforma, atualizada constantemente.

Os casos são categorizados em seis tipos específicos: violência física, moral, psicológica, patrimonial, sexual e tentativa de homicídio. Os números não distinguem, entretanto, quais os casos em que somente um tipo de violência foi cometida, considerando que é mais frequente a situação em que a mulher é vítima em mais de um comportamento violento.

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No período descrito, 2.811 casos de violência contra a mulher foram registrados pelo CRM em Fortaleza. Destes, 114 foram observados no bairro Mondubim, sendo a área com o maior número na Capital. Messejana foi o segundo, com 85 casos de junho de 2017 a novembro de 2019. Os bairros Bom Jardim (72), Barra do Ceará (70), José Walter (69), Centro (69) e Jangurussu (63) aparecem na sequência.

Políticas públicas

Para o professor de Engenharia da Computação da Universidade de Fortaleza, Eurico Vasconcelos, coordenador de desenvolvimento do portal, a ferramenta “permite que nós, da academia, analisando essas dados, possamos propor políticas publicas, entender a violência. O portal é fundamental tanto pelo eixo da transparência quanto dos dados abertos para pesquisa”. Vasconcelos ressalta, ainda, que o portal é um canal de transparência. “Primeiro, você tem os dados da violência, estratificados de diversas formas, e filtros que podem ser aplicados, e tem as ações de enfrentamento a essa violência, afirma.

“A gente percebe que as vítimas têm uma renda de, no máximo, um salário mínimo estão inseridas em bairros mais populosos e de baixo poder aquisitivo”, pontua a defensora pública Ana Kelly Nantua, do Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Nudem).

“A violência está em todas as classes, mas no nosso Núcleo, esse é o perfil”, diz. Do total de casos registrados entre esses meses, a violência psicológica foi a mais frequente, sendo observada em 2.241 ocorrências. A defensora explica, ainda, que a dependência psicológica e financeira são os fatores mais comuns entre as vítimas, que fazem com que estas permaneçam mais tempo sem denunciar.

“São mulheres que vêm de uma dependência emocional e familiar muito grande. Isso as coloca em uma situação de violência por anos. Elas demoram de cinco a dez anos pra externar essa violência, para denunciar. Também há dependência psicológica e financeira, o que faz com que elas fiquem envolvidas nesse ciclo sem poder reagir”, detalha a defensora.

Segundo ela, o Nudem atua oferecendo apoio jurídico, ingressando com ações voltadas à área de família, visando o divórcio ou pensão alimentícia. Além disso, é realizado um trabalho com psicólogo e assistente social, onde a mulher é atendida e então encaminhada para unidades especializadas, como Centro de Referência de Assistência Social (Cras) ou Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). “Muitas chegam com quadro de ansiedade ou depressão já em crise”, relata.

Contexto social

A professora Daniele Maia, do Centro de Ciências Jurídicas da Unifor, destaca que os crimes não ocorrem esvaziados de um contexto social. “(As vítimas) são mulheres que estão localizadas onde a cultura machista ganha muita força. Um número significativo dessas mulheres é vulnerável, por serem impedidas pelo machismo de se lançar na sociedade e construir sua própria autonomia a partir dos seus trabalhos. São mulheres expostas a maiores riscos, em locais onde as políticas públicas não chegam com êxito para todas”, avalia.

A construção do Observatório partiu da necessidade de políticas públicas embasadas em informações mais fidedignas em relação à cidade, conforme descreve Natália Rios, coordenadora de Políticas Especiais para Mulheres de Fortaleza. Segundo ela, o Centro de Referência da Mulher realiza mais de 6 mil atendimentos por ano, o que garante um banco de dados para a plataforma. “A gente passa a desenvolver um trabalho proveitoso destinado às necessidades da cidade e a medir os impactos que esse trabalho promove”, frisa Natália.

A coordenadora de Políticas Especiais afirma que, conforme forem identificadas as áreas onde as mulheres são mais vulneráveis economicamente, será estabelecido um diálogo com a Secretaria do Desenvolvimento Econômico para elaborar trabalhos específicos para reduzir efeitos.

Por Redação do Sobral Pop News com informações do Diária do Nordeste

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