Casos de dengue na capital cearense até março crescem quatro vezes

Quando o novo coronavírus não havia chegado sequer ao Ceará, epidemiologistas do Estado já alertavam sobre a possibilidade de uma sobreposição de epidemias por aqui, um risco à população e ao sistema de saúde público. O cenário, então, tem se concretizado. Enquanto a pandemia da Covid-19 já assola Fortaleza, com mais de 2,7 mil casos confirmados, a quantidade de confirmações de dengue também cresce: já são 1.607 diagnósticos, cerca de quatro vezes mais que o registrado em igual período de 2019, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Entre janeiro e março do ano passado, até a 14ª semana epidemiológica, os dígitos que contabilizaram a incidência de dengue na capital cearense mostraram um cenário menos grave: foram 274 pacientes com diagnóstico da doença no trimestre. Em 2020, neste mesmo período, a soma foi 1.202 pacientes positivos para dengue. Já até a 15ª semana epidemiológica deste ano, que abarca até 11 de abril, Fortaleza já registrava mais de 1.600 infectados. A reportagem solicitou o boletim da 15ª semana de 2019 à SMS, mas a Pasta informou não dispor dos dados, por uma falha do sistema, à época.

Além da dengue, arbovirose mais presente no nosso território, Fortaleza soma ainda 40 casos confirmados de chikungunya e um de zika, cenário semelhante ao do ano passado, quando foram contabilizados 37 casos da primeira e nenhum da segunda, no período.

Segundo Nélio Morais, coordenador da Vigilância em Saúde (Covis) de Fortaleza, as arboviroses “continuam a preocupar”, principalmente em bairros como Jangurussu, Conjunto Palmeiras e Messejana, todos na Regional VI. Ele analisa que, com o avanço do novo coronavírus, um aumento também no número das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti pode prejudicar o sistema de saúde.”Estamos vivendo um desafio mundial, que é a pandemia do coronavírus. Não podemos nem imaginar ter em Fortaleza uma situação parecida com a que já temos deste novo vírus. Isso transtornaria nossa rede de atendimento, que está focada nessa outra doença”, aponta Morais.

Por meio de dados do Sistema de Notificação de Agravos (Sinan), Nélio afirma que já é possível perceber o início de um “padrão epidêmico” nos registros de dengue na cidade. Por esse motivo, a arbovirose tem sido “o maior foco de combate” do monitoramento de endemias. “A cidade passa pelo monitoramento nacional, que é o Sistema de Notificação de Agravos, e ele nos dá o respaldo de identificar e analisar a tendência e a distribuição espacial desses casos, monitorados pelo chamado Diagrama de Controle. Nele, se observa determinada doença, se ela está dentro de um padrão endêmico. Hoje, por exemplo, a dengue já começa a apresentar para a linha de um padrão epidêmico, o que significa estar extrapolando o número de casos para o período em estudo”, reconhece Nélio.

No entanto, sistemas de monitoramento locais também são usados para tentar frear uma possível epidemia. “O último sistema que nós implantamos na cidade identifica a doença no momento do atendimento do paciente em unidades de saúde. Quando o profissional está preenchendo uma ficha, os dados já são captados pela vigilância epidemiológica e isso oportuniza uma ação efetiva”, explica o coordenador. A partir daí, equipes podem ser direcionadas em até 72 horas para o local onde a pessoa infectada reside. A intenção é evitar a reprodução do mosquito e destruí-lo por meio da aplicação de inseticida.

Em casa

Para Fernando Silva, 25, morador do bairro Messejana, na Regional VI, o diagnóstico da dengue veio dias após entrar em distanciamento social. O temor da contaminação pelo coronavírus o fez aguardar alguns dias em casa para, só depois, iniciar um tratamento baseado em hidratação e repouso. “Os primeiros sintomas que tive foram dores no corpo e cansaço. No segundo dia, eu já não conseguia fazer quase nada, ficava muito cansado e doído. No terceiro dia, começaram a aparecer manchas vermelhas no corpo, que ardiam e coçavam, além da diarreia”, descreve.

A persistência dos sintomas resultou na necessidade de confirmação. “Eu sabia que estava doente, mas tinha medo de ir ao hospital, pela questão do coronavírus. Pesquisei os sintomas na internet, e vi que poderia muito ser dengue ou zika, o que me deixou mais aliviado. Mesmo assim, fiquei preocupado, então fui ao consultório do médico que me acompanha desde de criança, e ele descartou Covid. Fiz um exame de sangue que confirmou a dengue”, relembra.

Segundo Nélio Morais, a maioria dos casos da dengue tipo 2, responsável por quadros mais severos da doença, foram registrados na Regional VI (593), seguida pela V (356) e pela II (182). Em janeiro deste ano, o Diário do Nordeste conversou com os pesquisadores Rivaldo Venâncio, coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); e Luciano Pamplona, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), e eles já haviam apontado a grande probabilidade de epidemia de dengue 2 no Estado.

Rivaldo justificou que o sorotipo “foi um grande causador de casos no Sudeste e no Centro-Oeste, em 2019, e a tendência é que se espalhe em especial para Nordeste e Norte, incluindo o Ceará”. Já Luciano alertou para o risco oferecido pelo vírus, confirmando que ele já havia sido “reintroduzido” no Ceará, no ano passado. “O que se espera para o Ceará em 2020, então, é um grande número de casos”, pontuou.

Orientações

Ainda de acordo com o titular da Covis, o período pré-carnavalesco deste ano trouxe um surto no bairro Siqueira e, junto com ele, um alerta para as semanas seguintes. Para controlar a situação, agentes foram designados em diversas ações para impedir novos casos. Agora, com a confirmação de casos da Covid-19, a cautela tem sido ainda maior.

Neste período no qual o isolamento social é a principal recomendação dos órgãos de saúde, a atividade dos agentes de endemias também tem mudado. “Existe uma portaria do Ministério da Saúde que restringe algumas ações dos nossos agentes. Temos uma atividade em caráter mais externo, direcionada a logradouros públicos, aos terrenos baldios, e também estamos desenhando uma atividade focada em mais de 140 mil imóveis em Fortaleza que acumulam armazenamento de água, com tambores, tanques e cisternas”, aponta.

A principal das recomendações, então, é para que os fortalezenses utilizem o maior tempo em casa para eliminar possíveis focos do Aedes aegypti. “Já que você está em casa e se prevenindo, aproveite para fazer essa inspeção em locais onde os focos podem ser identificados. Elimine o que você puder ou cubra equipamentos e recipientes que podem fazer esse acúmulo de água”, finaliza Morais.

Por Redação do Sobral Pop News com informações do Diário do Nordeste

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