Candidato mais votado para a reitoria da UFC lamenta escolha de Bolsonaro: ‘a voz da universidade não foi respeitada’

Escolhido pela maioria da comunidade acadêmica da Universidade Federal do Ceará (UFC) para a reitoria, o professor Custódio Luís Silva de Almeida lamentou “profundamente” a decisão do presidente Jair Bolsonaro de nomear o advogado e professor Cândido Albuquerque para o cargo, o menos votado em consulta pública. Para Custódio, que está deixando a vice-reitoria, a decisão foi uma “quebra de tradição” na universidade.

O professor do curso de filosofia da UFC, em entrevista ao G1, afirmou que a opinião de professores, servidores e estudantes não foi respeitada. “A minha lamentação não é pessoal, é pela UFC. A minha candidatura foi pelo público e pelo coletivo. É triste porque a voz da universidade não foi respeitada”, afirmou o docente, que nesta semana finaliza os trabalhos no gabinete da vice-reitoria.

Custódio relata ter recebido a notícia com surpresa, principalmente pela diferença no número de votos recebidos entre ele e o reitor nomeado, Cândido Albuquerque, na consulta pública realizada em maio deste ano. Almeida recebeu 7.772 votos, enquanto o novo reitor teve 610. “De fato foi uma escolha que gerou revolta na comunidade universitária, principalmente porque o resultado da eleição foi muito discrepante. A diferença de votos foi muito grande”, comenta.

Sobre não ter sido escolhido, o ex-vice-reitor afirma que ainda está “buscando algum tipo de explicação” para a decisão do presidente, anunciada na última segunda-feira (19). “Não tenho nenhuma ideia do motivo da escolha, ainda estou buscando algum tipo de explicação. Eu tenho um currículo completamente compatível com o cargo de reitor. Não há absolutamente nada que desabone meu nome”, ponderou Custódio, que já foi pró-reitor e era o vice-reitor da gestão de Henry Campos.

Articulação

Mesmo sem detalhes sobre os motivos da decisão do Palácio do Planalto, Custódio afirma que o reitor escolhido fez “articulações em Brasília”. “Obviamente eu sei que professor Cândido Albuquerque fez investidas e articulações políticas e empresariais em Brasília”, comenta.

Nessa última terça-feira (20), Cândido Albuquerque afirmou que não foi “indicado para ser líder político”. Entre as prioridades da gestão, disse que pretende rever o processo eleitoral para a reitoria.

Segundo Custódio Almeida, os próximos quatro anos da nova gestão serão desafiadores. “É um mandato que vai prejudicar a universidade e seus fluxos. Os movimentos organizados já estão se pronunciando. E não só os organizados, são todos os professores e alunos da universidade que, de fato, se sentem desrespeitados e sentem um anseio muito grande pelo que está por vir”, pondera.

Professor de filosofia, Custódio afirmou que seguirá “fazendo o mesmo trabalho”, ainda que fora da gestão da universidade. “Nunca deixei de dar aula, nunca deixei de orientar aluno, e vou continuar defendendo a liberdade de pensamento na UFC. Sempre defendi a educação pública e autonomia acadêmica. Entendo que a universidade pode e deve ser um grande farol de referência”.

(Por G1 Ceará)

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