A comunicação no governo Bolsonaro

 

Em artigo no O POVO deste sábado (10), a jornalista Letícia Alves avalia a utilização das redes sociais como meio de divulgação de informações oficiais do governo eleito. Confira:

Principal palanque da campanha de Jair Bolsonaro (PSL), as redes sociais vão manter o protagonismo no governo do presidente eleito. Ao menos é o que ele tem sinalizado desde os primeiros minutos após a confirmação da eleição, quando fez seu primeiro pronunciamento via Facebook, numa transmissão ao vivo da sala da sua casa, para só depois falar aos veículos de imprensa. A decisão foi simbólica.

De lá para cá, as redes sociais se tornaram o meio de divulgação de informações oficiais do governo eleito, com o anúncio dos nomes dos futuros ministros, a negação de notícias falsas que circulam na internet e mesmo a comunicação direta com a população.

Os jornalistas tradicionais, acostumados a solicitar informações a assessores de imprensa ou a um porta-voz para publicar as notícias em primeira mão, têm agora de acompanhar as publicações no Facebook do presidente ao mesmo tempo de milhões de seguidores, perdendo a prioridade e, inclusive, a audiência.

A postura de Bolsonaro revela não somente a relação pouco amigável que ele estabeleceu com a maior parte dos veículos de mídia, mas uma escolha que é sinal desse tempo de mudança pelo qual o País está passando. Em um cenário de descrença acentuada, não sem motivo, do povo contra a imprensa, por que não optar por se comunicar de forma direta, em uma linguagem que dá pouco espaço à distorção e em um meio que pode ser consultado por qualquer um com acesso à internet?

A ampla comunicação via redes sociais também foi adotada pelo presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, que já usou o Twitter até mesmo para tratar de assuntos diplomáticos. Para os especialistas que ainda estão tentando encontrar explicações para a eleição de Bolsonaro ? resposta esta que o povo já tem ?, a decisão de Bolsonaro é irresponsável e significa uma retaliação “antidemocrática” à imprensa. Na minha percepção, porém, essa postura permite uma transparência jamais concedida pelas estruturas de poder brasileiras, além de não prejudicar o trabalho da mídia, da qual eu faço parte.

As publicações de Bolsonaro são versões dele acerca do governo, que devem ser esmiuçadas, questionadas e desmentidas, se preciso, pelos jornais. Os meios alternativos de comunicação vieram para ficar, Bolsonaro mostrou que sabe usá-los, e a imprensa terá de se reestruturar para manter seu protagonismo e a confiabilidade na divulgação de informação.

Sobral pop news

por: Letícia Alves

Jornalista do O POVO

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