Preso ao ser confundido com ‘maníaco da moto’ tem traumas e vive isolado no interior do Ceará

Atendimento psicológico, medicação psiquiátrica e isolamento. É assim como vive atualmente, no interior do Ceará, o ex-borracheiro Antônio Cláudio Barbosa de Castro. Cinco anos após ter inocência comprovada depois de uma série de acusações de estupro, ele ainda tem dificuldade para firmar relações sociais e, na maior parte do tempo, evita sair de casa.

A história de Antônio Cláudio Barbosa é tema do programa Linha Direta. Ele foi confundido, preso, julgado e condenado como se fosse o “Maníaco da moto”, criminoso autor de uma série de oito estupros ocorridos nas ruas de Fortaleza em 2014.

O criminoso utilizava uma moto vermelha e ameaçava as mulheres com uma faca, cometendo os atos. Suspeito atuava nos bairros Parangaba, Maraponga e Vila Peri. Dentre as vítimas, está uma criança de 11 anos. O verdadeiro culpado nunca foi identificado.

g1conversou com Antônio Cláudio Barbosa em setembro de 2023. Desde que saiu da prisão, precisou de atendimento psicológico, recebeu medicação psiquiátrica, não conseguiu emprego, mudou de cidade.

“Depois de toda tortura, todo sofrimento que eu que passei e às vezes até ainda passo, então eu me recolhi bastante. Hoje eu sou uma pessoa atípica, eu procuro sempre me afastar mais das pessoas, eu fico sempre só. É muito difícil me ver com alguém. Porque querendo ou não, essas sequelas me tornaram bastante afastado das pessoas”, contou Antônio.

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Sonhos interrompidos

Quando deixou a prisão, no dia 30 de julho de 2019, Antônio Cláudio revelou ter vários planos para retomar a vida. Entre eles, por exemplo, viajar e conhecer amigos de São Paulo que fez na internet, por meio de jogos online. Também queria voltar a trabalhar e formar uma família. Parte dos sonhos, Antônio Cláudio realizou. Contudo, parte das conquistas vieram manchadas pelo trauma.

Hoje, Antônio já voltou a disputar partidas de jogos online. Mesmo no ambiente de divertimento, ele não escapa de ser atacado. “Sofro perseguição até hoje até em jogos online. Quando tem pessoas que me reconhecem, soltam aquelas palavras de baixo calão lá, ‘é o estupradorzinho’”, conta.

Apesar disso, insistiu em alguns dos objetivos que tinha. Dos amigos de São Paulo, por exemplo, encontrou alguns.

“Eu consegui ver alguns, outros eu não consegui até hoje devido ao trauma, devido a ficar mais recluso, [você] perde muitas amizades. E eu fiquei tão abalado, com depressão, ansiedade, que no meu antro de amizade eu queria poucas pessoas. Até para evitar alguns constrangimentos”, revela.

Com a repercussão do seu caso em 2019, ele foi convidado a dar palestras e contar sua história na TV. Seu caso, nas palavras de Antônio, é a história de um símbolo de justiça.

“Até hoje sou convidado a palestrar, a falar sobre justiça, muitos advogados ou defensores me usam como um escudo para mostrar que não devem ser cometidos os mesmos erros que foram cometidos comigo”, diz.

Hoje, longe da capital cearense e ao lado da esposa Luziane, Antônio cria sua filha, a pequena Ivy, de 2 anos, na cidade serrana de Tianguá, de pouco mais de 80 mil habitantes.

No batizado da menina, uma demonstração de gratidão: convidou para ser padrinho o defensor público Emerson Castelo Branco, que o ajudou no processo de soltura.

Embora busque seguir em frente, o passo deixou suas marcas, e o Antônio sabe que há muitos desafios a superar.

“Me dói na minha alma porque até hoje [setembro de 2023] não trabalho, até hoje nunca fui ressarcido de nada para poder recomeçar minha vida ou montar um negócio. Então assim, hoje em dia eu vivo um dia de cada vez pela graça de Deus. Os traumas me magoam, me maltratam até hoje. Então às vezes eu não acredito mais em mim. Mas eu continuo lutando, acreditando que possa acontecer um milagre”, completa.

Por Redação do Sobral Pop News / Fonte: G1/CE

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